Filme muito interessante, que conta um pouco da vida do psiquiatra Carl Jung e de seu relacionamento com Sigmund Freud. Interpretados com excelência por Michael Fassbender (Shame) e Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis), o roteiro consegue construir como o ser humano é contraditório, até mesmo esses profissionais tão prestigiados. Acho que o filme pende mais a balança para Freud do que para Jung, retratando com mais dedicação as fragilidades de personalidade de Jung do que de Freud. De qualquer forma, o filme apresenta um estudo intrigante sobre os mistérios do sexo, daquele jeito bem peculiar que David Cronemberg costuma desenvolver.
Minha Cotação: * * * *
CRÍTICA | CINECLICK
UM MÉTODO PERIGOSO
Roberto Guerra
http://www.cineclick.com.br/criticas/ficha/filme/um-metodo-perigoso/id/2923
Fãs de David Cronenberg podem até achar o longa Um Método Perigoso conservador demais se comparado com as obras anteriores do cineasta, como Crash – Estranhos Prazeres ou Gêmeos – Mórbida Semelhança, por exemplo. Desta vez o diretor leva às telas um filme de época sobre as origens da psicanálise e as confusões sexuais e inseguranças de seus mentores, Sigmund Freud e Carl Jung.
A trama é inspirada no livro A Most Dangerous Method, de John Kerr, e adaptada para o cinema pelo premiado escritor Christopher Hampton, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro por Ligações Perigosas. Antes, Hampton já havia levado a história para os palcos na peça The Talking Cure. Inteligente e recheado de diálogos pesados e intensos, o roteiro mapeia aos poucos as relações tensas que o famoso psiquiatra Carl Jung (Michael Fassbender) teve com sua paciente Sabina Spielrein (Keira Knightley) e o pai da psicanálise, Sigmund Freud (Viggo Mortensen).
O nome do filme refere-se a um artigo de Freud intitulado Observações Sobre o Amor Transferencial, escrito em 1914 e publicado em 1915. No texto o psicanalista versa sobre a questão do envolvimento amoroso entre analistas e analisados, provocando deliberadamente Jung, que manteve relações com Sabina durante o atendimento da mesma de 1904 a 1911. Este seria o “método perigoso” de trabalho, Freud explica.
O grande acerto de Um Método Perigoso é humanizar os dois ícones da psicanálise e levar o espectador a refletir como mesmo o mais genial e ousado cientista tem, ele próprio, as suas imperfeições e inseguranças. O filme abarca um período de mais de sete anos, começando em 1904 quando Sabina Spielrein chega à Clínica Burgholzli. Ela começa a ser tratada pelo dr. Jung com a psicanálise freudiana com resultados bem-sucedidos. Dois anos depois, o discípulo Jung começa a se comunicar com Freud no que se torna uma relação fundamental para ambos, mas turbulenta.
O filme concentra a atenção do espectador na complexidade dos personagens, explorando a psique humana e suas peculiaridades. Neste aspecto, um típico filme de Cronenberg. É por meio desses personagens densos e seus diálogos reveladores que conhecemos a história dos atritos entre Freud e Jung. Quando o aprendiz resolve direcionar seus estudos para áreas de misticismo, como telepatia e clarividência - coisa que Freud era radicalmente contra -, os dois entram em rota de colisão. Jung ainda irrita o egocêntrico Freud ao questionar sua obsessão em relacionar todos os problemas do ser humano a motivos sexuais. O embate entre os dois é mostrado de modo fria e incisivamente austera pelo cineasta, refletindo a supressão intencional dos sentimentos dos personagens.
Apesar do constante debate de ideias que se vê na tela, os momentos mais agradáveis do filme ocorrem nos detalhes, como Freud corrigindo Jung sobre o nome de sua teoria ou a expressão no rosto de Freud quando eles viajam para a América juntos e Jung informa que está viajando de primeira classe, porque sua esposa rica havia reservado a passagem.
A atuação de Keira Knightley como Sabina é elogiável, principalmente na primeira parte do longa, no qual consegue transparecer fisicamente seus transtornos mentais, medos e prazeres de forma a deixar o espectador aflito e capaz de compartilhar de seu drama. Mas é inegável que o ator de destaque é Michael Fassbender, impecável no papel de um Jung imerso e perdido em seus conflitos internos.
Um Método Perigoso sofre de certa escassez distinta de elementos destinados a apoiar e captar o interesse dos espectadores casuais, o que deve fazer com que parte da audiência o ache morno demais. No entanto, é um drama envolvente e instigante, com boas atuações e, embora não se aprofunde emocionalmente como parte do público talvez espere, prende o espectador mesmo sendo um filme bem estático e sem grandes reviravoltas.
FICHA TÉCNICA
Diretor: David Cronenberg
Elenco: Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Keira Knightley, Vincent Cassel, Sarah Gadon, Michael Fassbender
Produção: Martin Katz, Marco Mehlitz
Roteiro: Christopher Hampton
Fotografia: Peter Suschitzky
Trilha Sonora: Howard Shore
Duração: 99 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Recorded Picture Company (RPC) / Lago Film / Prospero Pictures
Classificação: 14 anos
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