Em "Super Nada", um ator desconhecido e um veterano lutam para superar o nada em São Paulo
Filme tem como maior mérito a interpretação do sempre excelente Marat Descartes
por Fábio Pastorello
Grande destaque do último festival de Gramado, no qual foi considerado por alguns críticos como melhor filme brasileiro do festival, "Super Nada" de Rubens Ewald ("O Corpo", 2007) e Rossana Foglia. O filme, assim como o também brasileiro "Riscado", conta as desventuras de um ator no Brasil. A dificuldade de conseguir reconhecimento, os trabalhos nem tão desejáveis aos quais os atores se submetem e as dificuldades financeiras são o pano de fundo desses dois trabalhos.
Se em "Riscado", conhecíamos a história de uma atriz que é escolhida para realizar um filme inspirado em sua própria vida de atriz, em "Super Nada" o mote é o relacionamento de admiração do protagonista, o ator Guto (Marat Descartes) pelo ator cômico Zeca (Jair Rodrigues), que faz o papel de um personagem chamado Super Nada numa espécie de "Zorra Total", um programa de humor e qualidade duvidosas.
Vivido com incrível talento por Marat Descartes, esse protagonista procura trabalhos relacionados ao humor. Marat é um ator excepcional, que já se destacou em outros filmes recentes, como nos ótimos "Dois Coelhos" e "Trabalhar Cansa". É o tipo de ator que pega qualquer papel e imprime grande crebilidade, não é diferente aqui. Em um filme sobre o ofício de interpretar, nada mais adequado que o protagonista seja um grande ator.
A verdade é que o trabalho de Jair Rodrigues também surpreende, criando um personagem malandro e decadente. A última cena do filme é seu momento de maior intensidade. Mas nos momentos cômicos (ou seja, nos quadros do personagem Super Nada), o filme derrapa e soa bastante artificial. É certo que o personagem faz parte de um programa de humor popular, mas a representação que o filme oferece é quase primária, fica mais próxima de uma filmagem amadora do que propriamente popular. Talvez fosse melhor simplesmente omitir essas partes, em que o filme se enfraquece.
Marat Descartes em uma das diversas cenas filmadas na cidade de São Paulo, que funciona muito mais do que meramente pano de fundo para a história |
O filme também se destaca pelo retrato da cidade de São Paulo, uma cidade que mais do que simplesmente uma ambientação, tem papel fundamental na trajetória de seus personagens. Segundo entrevista de Marat Descartes ao portal Terra, "São Paulo engole os desejos e coloca as pessoas em um vórtice de loucura, fazendo com que se perca a objetividade". É um retrato interessante, de uma cidade repleta de oportunidades, mas justamente por causa de seus excessos, acaba oprimindo as vontades e a trajetória dos que nela buscam o sucesso. Pior é que isso também aconteceu comigo.
O roteiro constrói com sutilezas a personalidade desse ator em busca de sucesso, mas que já parece ter passado da idade para a fase das esperanças (no filme, o ator tem uma filha - interpretada pela filha de Marat na vida real, e vez por outra precisa de empréstimos da mãe). A história também é cheia de reviravoltas, em grande parte surpreendentes, mas em alguns momentos nada críveis. Apesar dos momentos em que o filme peca pela falta de coerência, a força da interpretação de Marat consegue manter o filme num patamar elevado, e algumas cenas engenhosas (como por exemplo quando Marat transforma um ser humano em marionete) mostram que o roteiro de Ewald tem muito mais do que nada a dizer.
Ficha Técnica
Cotação: * * * *
É um filme estranho, mas gostei de assistir. O ator é muito bom e a vida é difícil mesmo...
ResponderExcluirA vida é estranha.
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