CRÍTICA
Quanto mais absurdo melhor
No filme Kaboom, Araki busca estética ultrapop em filme diverso e divertido
por Fábio Pastorello
Em uma das primeiras cenas do filme, o protagonista de Kaboom (Kaboom, 2010), Smith (Thomas Dekker) é questionado sobre sua tendência sexual. Smith afirma então que não acredita em rótulos sexuais. O filme de Gregg Araki segue nessa mesma linha de seu protagonista, aposta em tantas vertentes que torna-se difícil classificá-lo como uma comédia GLS ou como uma ficção científica ou como um filme sobre descobertas sexuais. E justamente nessa diversidade que o diretor encontra seu grande diferencial.
No excelente Mistérios da Carne (Mysterious Skin, 2004), o filme mais bem sucedido de Araki, o diretor já flertava com essa diversidade de gêneros. O filme de 2004 é um retrato de dois adolescentes lidando com aspectos sexuais, traumas do passado e ainda traços de ficção científica.
Araki afirma que, com Kaboom, sua intenção era fazer um filme ultrapop. Para isso, o cineasta abusa de cores vibrantes, transições engraçadas e planos inusitados. Através dessa estética, afirma um cinema oposto ao estilo documental, ou seja, através dos excessos ele procura justamente distanciar-se do real e construir um universo particular. Essa estética é coerente com a narrativa também irreal que o filme irá contar.
A história acompanha a trajetória de dois universitários: Smith e sua melhor amiga Stella, que vivem aventuras sexuais e tentam lidar com acontecimentos estranhos. Smith presencia um assassinato no campus, mas não consegue distinguir se o evento de fato aconteceu ou foi fruto de alucinações. Stella se envolve com uma garota que possui poderes paranormais.
A abordagem de Araki sobre esses eventos é sempre bem humorada, original e ousada. Os diálogos são ácidos e inteligentes, em personagens que fogem do lugar comum. Existe a jovem sexualmente avançada que ensina os homens a transar; o companheiro de quarto hétero que tem atitudes homossexuais ou a mãe do protagonista que lida com o filho de forma despreocupada. A trama também caminha por caminhos peculiares, quase surreais (por isso a referência, em uma das cenas, ao filme "Um Cão Andaluz", de Luís Bunuel, um clássico do surrealismo no cinema).
O filme avança cada vez mais por caminhos improváveis. Toda essa estética ultrapop e sua narrativa desconcertante podem provocar estranheza no público, principalmente no final que encerra o filme de forma repentina e absurda. De qualquer forma, o filme é uma experiência divertida para quem estiver disposto a ver mais criatividade do que verossimilhança no cinema.
COTAÇÃO DO JANELA INDISCRETA: * * * *
FICHA TÉCNICA
Diretor: Gregg Araki
Elenco: Thomas Dekker, Haley Bennett, Chris Zylka, Roxane Mesquida, Juno Temple, Nicole LaLiberte, Jason Olive, James Duval , Kelly Lynch, Carlo Mendez
Produção: Pascal Caucheteux, Gregg Araki, Andrea Sperling
Roteiro: Gregg Araki
Fotografia: Sandra Valde-Hansen
Trilha Sonora: Robin Guthrie, Vivek Maddala, Mark Peters, Ulrich Schnauss
Duração: 86 min.
Ano: 2010
País: EUA/ França
Gênero: Comédia
Cor: Colorido
Distribuidora: Vinny Filmes
Estúdio: Why Not Productions / Desperate Pictures / Wild Bunch / Super Crispy Entertainment / Next World, The
Classificação: 16 anos
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