21 de jul. de 2012

Na Estrada


"Na Estrada" é um filme que trata do desejo de viajar. Não somente sobre uma viagem, mas sobre várias, e como elas modificaram a vida (e o relacionamento) de dois amigos e deram origem a uma obra de arte. A arte no caso é o livro "On the Road", de Jack Kerouac, clássico da literatura beat norte-americana. Walter Salles, diretor de "Na Estrada", entusiasta de filmes de viagem, já dirigiu road movies como "Central do Brasil" ou "Diários de Motocicleta". Conforme Walter Salles declarou em Cannes, "quanto mais você se distancia das raízes, do ponto inicial, mais você ganha perspectiva sobre quem você é, de onde veio e, eventualmente, quem quer ser."



(AVISO: O TEXTO CONTÉM SPOILERS)

Luiz Zanin Oricchio, crítico de cinema do jornal Estado de São Paulo, também diz algo interessante sobre o filme e as viagens. "A viagem é também a metáfora da mudança - e isso desde a maior entre elas, a de Ulisses, na Odisseia. Mas a obra de Homero é, também, a constatação de que tudo muda, inexoravelmente, mesmo aquilo que não gostaríamos que mudasse. Há, assim, sempre um tom de melancolia na viagem realizada. Ela nos atrai por um lado e nos atira na cara a nossa irremediável finitude, por outro."

O filme de Salles é tão rico de experiências que somente uma segunda visita podem ser capazes de captar. Ao contrário das experiências frenéticas dos personagens, Salles opta por um registro mais lento, por vezes contemplativo (por exemplo quando retrata as estradas), que permite um pouco melhor absorver toda a riqueza de imagens e vivências que estão sendo mostradas. 

No entanto, já se depreende muito da primeira visita. A construção dos personagens é muito interessante, desde o protagonista Sal (Sam Riley, de "Control", em personagem inspirado no próprio Kerouac) que apesar do desejo de viagens e de novas experiências, tem a possibilidade de retorno ao porto seguro da casa da mãe, em contraponto ao Dean (Garrett Hedlund, de "Tron: Legacy") que já não tem a figura da família bem estabelecida, busca o pai e/ou tenta manter o casamento e a família com Camille (Kirsten Dunst). Dessa forma, os dois personagens alternam entre o espírito libertário e o desejo de possuir vínculos. Marylou, uma jovem que acompanha os dois em uma das viagens (Kristen Stewart, da série "Crepúsculo", mas que já havia participado de outro filme excelente de viagem, "Na Natureza Selvagem"), é a única que verbaliza esse desejo de constituir uma família, em contraponto ao estilo de vida viajante que levavam.

As experiências de viagens desses dois personagens irão modificá-los profundamente, para o bem ou para o mal. Durante essa trajetória, Dean e Sal irão conhecer os limites de seu espírito libertário. Eles experimentam sexo com diversas mulheres, estão sempre atrás de drogas, fogem da família, roubam, ultrapassam os limites de velocidade e viajam por diversos e diferentes lugares. No entanto, travam diante da possibilidade de uma relação homoerótica, e em outro momento, quando um deles tem uma experiência homossexual por dinheiro, é recriminado pelo outro. O ímpeto de viajar e de novas experiências pode até significar o fim da amizade. Parece que toda liberdade tem seus limites.

Minha Cotação: * * * *


FICHA TÉCNICA
Diretor: Walter Salles
Elenco: Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Garrett Hedlund, Alice Braga, Sam Riley.
Produção: Charles Gillibert, Nathanaël Karmitz, Jerry Leider, Rebecca Yeldham, Walter Salles
Roteiro: Jose Rivera
Fotografia: Eric Gautier
Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla
Duração: 137 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: PlayArte
Estúdio: American Zoetrope / Film4 / MK2 Productions / Video Filmes
Classificação: 16 anos




1  http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-viagem-que-nos-atrai-e-nos-deixa--melancolicos-,899722,0.htm


6 comentários:

  1. Gostei da sua crítica, mas avise que tem Spoilers!!! Achei o filme bem interessante, mesmo não sendo muito chegado em filmes desse gênero. Vale pelo humanismo dos personagens.

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    1. Pronto, corrigido. Quem sabe um dia eu leio o livro... Vamos ver.

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  2. Adorei o texto, fiquei bem curiosa para ver o filme.

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    1. Vale a pena, Alê. Talvez ele peque por ser um pouco lento ou com duração excessiva, mas tem bastante coisa interessante lá.

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  3. Nossa, gostei da crítica, um texto positivo frente às péssimas recomendações que li, o que me agrada muito, pois me deu bons motivos pra ver essa empreitada de Salles. Parabéns pelo texto, Fábio!

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    1. Dei um voto de confiança ao Salles. O filme (e o livro) tem muito a dizer. Se tiver uma oportunidade, ainda irei revê-lo.

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