23 de fev. de 2013

Os Miseráveis


Cartaz do filme "Os Miseráveis"
Realidade e invenção estão interligadas no musical "Os Miseráveis"
Filme ganhador do Globo de Ouro de melhor musical/comédia é um emocionante filme de excessos


O cinema é uma arte que tem a possibilidade de reunir todas as outras. Ali estão unidas a fotografia, a música, a literatura, o teatro, a dança, a pintura, a moda, a cenografia, a tecnologia como expressão artística (através dos efeitos visuais, que também são um pouco de mágica, taí o nosso querido George Meliès que não nos deixa mentir), etc. Quanto mais artes a obra cinematográfica consegue reunir e harmonizar, maior o encanto que ela provoca em mim. No caso, "menos é mais" não é o meu lema predileto. Para confirmar essa tese, basta dizer que o excessivo, mas genial, "Moulin Rouge - Amor em Vermelho" de Baz Luhrmann, é um dos meus filmes prediletos de todos os tempos.

Por isso, fica fácil de entender porque algumas pessoas gostam tanto, e outras não, do musical "Os Miseráveis", adaptação de um musical da Broadway e de um livro de Victor Hugo. Tudo depende de como o público prefere essa mistura de influências ou as obras mais minimalistas. O cinema de hoje em dia tem espaço para tudo isso, e depois de assistir filmes sem nenhuma trilha sonora (como era a proposta da turma do Dogma 95 de Lars Von Trier), talvez cause estranhamento ver agora um filme absolutamente todo cantado, como é o caso de "Os Miseráveis".




Tom Hooper dirigindo uma cena do filme
Mas de todas as artes, talvez a ópera seja a que "Os Miseráveis" se aproxima mais. Por isso mesmo, o fato de ser todo cantado, o registro trágico e os movimentos e lentes de câmera sempre diferentes, como aliás o diretor Tom Hooper já havia adotado no ganhador do Oscar em 2011 "O Discurso do Rei". Apesar da direção de arte realista, que reconstrói uma França decadente, suja e miserável, que contribui para a noção de revolução que o filme irá contar posteriormente, todos os demais registros são bem distantes de realismo. Essa mistura de realidade e fantasia, é a própria essência do cinema, e nessa história que mantém doses semelhantes de realismo e de invenção, nada mais apropriado do que mesclar esses dois extremos.

O filme conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman, indicado ao Oscar de melhor ator, excelente), um homem que cumpre sentença pelo roubo de um pão e uma vez livre e tendo reconstruído sua vida até virar prefeito, continua perseguido por um policial (Russel Crowe, péssimo cantor). Enquanto é perseguido, ele tenta criar uma menina, filha de Fantine (Anne Hathaway), uma ex-empregada de Valjean que torna-se prostituta e vive na miséria.

Anne Hathaway em cena de "Os Miseráveis", na performance da famosa "I Dreamed a Dream", filmagem levou 8 horas
e a atriz emagreceu mais de 10 quilos para o papel, típico esforço que a Academia gosta de reconhecer

A primeira metade de "Os Miseráveis" é impecável, com cenas grandiosas e emocionantes, como a primeira cena em que Jackson e outros presos puxam um barco, alternando com cenas intimistas, na já clássica cena de Anne cantando "I Dreamed a Dream", canção mais famosa do musical, que somente por essa cena deve lhe render o Oscar de melhor atriz coadjuvante. A cena, embora aparentemente simples, levou 8 horas para ser gravada, de forma que Anne conseguisse atingir toda a emoção necessária.

Nessa alternância constante de realidade e fantasia, enquanto em alguns momentos Hooper opta por cenas grandiloquentes, em outros opta pelo registro da câmera próxima aos atores, como é o caso de Anne em "I Dreamed a Dream" ou de Samantha Barks em "On My Own", opção que dá mais força às músicas e suas interpretações. Seja qual registro Hooper escolha para cada situação, a emoção é garantida. Uma curiosidade é que Anne Hathaway já havia sido escalada para um musical famoso anteriormente, no caso para o papel principal de "O Fantasma da Ópera", mas teve que recusar por força de contrato com a Disney por causa de "O Diário de uma Princesa". Uma pena.




Outra curiosidade interessante é que todas as canções foram gravadas ao vivo, ou seja, com som direto. Dessa forma, enquanto o filme era filmado, as canções eram registradas simultaneamente, o que garante maior espontaneidade para as performances. O resultado nem sempre soa tão perfeito como uma gravação em estúdio, mas vale pela inovação e coragem dentro do gênero musical.

Hugh Jackman, transformado na primeira metade de "Os Miseráveis",
em papel que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar
O filme foi indicado para 8 Oscar, entre eles melhor filme, e ganhou os Globos de Ouro de melhor filme em musical/ comédia (no Globo de Ouro existe essa salutar diferença, já que na maior parte das vezes os musicais ou comédias são preteridos em relação aos dramas), melhor ator em musical ou comédia (Hugh Jackman) e melhor atriz coadjuvante (Anne Hathaway).

É certo que "Os Miseráveis" provoca divisão de opiniões justamente por conta de suas escolhas, seja pelo excesso de cantoria, pela longa duração (isso porque o filme ainda foi cortado, mesmo assim ainda há alguns momentos um pouco cansativos lá pelo meio da projeção), pelo estilo de direção de Hooper ou por essa mistura de realidade e invenção que pode soar indigesta para alguns. No meu caso, o filme me conquistou plenamente, com diversos momentos de emoção e arrepios, e entra na minha lista de um dos melhores filmes do ano.

Cotação do Janela Indiscreta: * * * * 1/2




3 comentários:

  1. Gostei muito. Belas canções, ótimas interpretações, filme épico e grandioso.

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    1. Estava com saudades de um musical assim, com grandes pretensões, e que de fato as alcança.

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  2. Eu amei, muito embora não goste de musicais, mas o filme me conquistou.

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