Desde criança era muito fã de novelas. Hoje nem tanto. O tempo passou, mas a maior parte dos novelistas se manteve. Portanto, as novelas continuam as mesmas, ou um pouco pior. Lógico, eles são mestres e acertam em algumas coisas, mas no geral falta a originalidade e o empenho dos primeiros trabalhos. Vide Gilberto Braga, por exemplo.
Atualmente assisto com grande prazer cada capítulo da novela "Vale Tudo", talvez a melhor novela de todos os tempos. Tá certo os capítulos que estão passando agora no canal Viva já mostram uma pequena "barriga" na novela. Mas até por volta do capítulo 70 a novela arrasou. E não era por causa de Odette Roithman, a grande vilã de todos os tempos e que todo mundo associa com a novela. O grande trunfo da novela era a trajetória oposta de duas personagens, mãe e filha: Raquel Accioly (Regina Duarte), tentando seguir a vida dentro de padrões éticos; e Maria de Fátima (Glória Pires), disposta a qualquer coisa para vencer na vida. Existe tema mais relevante para o Brasil do que essa discussão? Será mesmo possível vencer na vida sem se corromper, e até onde as pessoas realmente seguem padrões éticos ou não (vide personagens como o Ivan de Antônio Fagundes). A novela ainda tem personagens fascinantes como a inesquecível cherry Solange de Lídia Brondi, a alpinista social Aldeíde de Lília Cabral ou o irremediável otimista e inocente Poliana de Pedro Paulo Rangel.
Hoje temos "Insensato Coração", uma novela com um vilão absolutamente flat, que é o Léo de Gabriel Braga Nunes, ou um casal protagonista sem muito carisma. Uma ou outra trama paralela ganham destaque, como a de Glória Pires na cadeia, mas no geral a qualidade fica muito longe do passado.
E como não se divertir com a reprise de "Vamp", novela do "tempo que os vampiros não brilhavam na luz do sol", como anuncia o comercial do Viva. Além da trama vampiresca, trash mas divertida, temos um casal divertido e cativante: Reginaldo Faria e Joana Fomm, e seus 12 filhos.
Mas nem tudo está perdido na disputa novelas de hoje em dia contra novelas de antigamente. Uma das últimas novelas que tinha assistido com imenso prazer e procurando não perder nenhum capítulo havia sido "A Favorita" de João Emanuel Carneiro (que colaborou nos roteiros de "Central do Brasil" e "Cronicamente Inviável", dois dos meus filmes brasileiros prediletos). A novela simplesmente arrasou e revolucionou o gênero, trazendo nos seus primeiros capítulos duas protagonistas interpretadas pelas excelentes Patrícia Pillar e Claudia Raia. O público não sabia qual das duas era a vilã. Lógico, com uma novidade dessas, a novela não foi muito bem da audiência, mas depois que a vilania da Flora (Patrícia Pillar) foi revelada, as coisas começaram a melhorar e a novela terminou muito bem. A novela ainda trazia Carmo Dalla Vecchia, como Zé Bob, um papel chave, e o ator agora participa de "Cordel Encantado".
Aliás, está aí outra novela que representa um frescor para a dramaturgia brasileira. A novela de Thelma Guedes e Duca Rachid (que já foram supervisionadas por Carneiro em "Cama de Gato", a novela anterior das duas) é um primor de fotografia e direção de arte, e conta com um ótimo elenco. Mas o que se destaca mesmo é o roteiro, que mistura a busca de uma princesa (no casal, não é princesa do Brasil, ainda bem...), uma cidade sertaneja e um núcleo de cangaceiros. Basta assistir alguns capítulos para notar que a novela tem muito potencial, tem várias possibilidades de história interessantes para se desenvolver. Para ler mais sobre a novela, sugiro o artigo do Blog NaTV, que fala bem sobre as virtudes da novela.
http://natvcritica.blogspot.com/2011/04/um-encanto-de-novela.html
E é isso aí. Falar de cultura brasileira sem falar de novela é meio difícil, até mesmo se for pra falar mal. Mas assim como os Estados Unidos têm as séries/seriados, nós temos nossas novelas, que todo mundo gosta de torcer o nariz, mas que vez por outra a gente sempre acaba assistindo algum capítulo.