Musical 'New York, New York' revive a era das big bands
Espetáculo baseado no livro de Earl Mac Rauch estreia em 14 de abril em São Paulo
05 de abril de 2011 | 16h 57
Ana Clara Jabur - Estadão.com.br
Um musical inédito com todos os elementos da Broadway, adaptado e produzido no Brasil. Este é o desafio de New York, New York, que estreia em 14 de abril em São Paulo. Com direção cênica de José Possi Neto, o espetáculo traz Alessandra Maestrini e Juan Alba como protagonistas no elenco, que conta ainda com Simone Gutierrez e a cantora Julianne Daud.
Alessandra Maestrini e Juan Alba em cena
New York, New York acompanha a vida do casal Francine Evans, uma cantora, e Johnny Boyle, saxofonista, no Estados Unidos pós-guerra. A história, que já foi filmada por Martin Scorsese em 1977 - Robert de Niro e Lisa Minelli como protagonistas - é baseada no livro homônimo de Earl Mac Rauch.
"O enredo é exatamente o mesmo. Com a diferença do tratamento do roteiro, que no filme tende para o drama. Nossa produção é levada para a comédia, exatamente como no texto original", afirma o maestro Fábio Gomes de Oliveira, diretor musical e idealizador do espetáculo.
"Confesso que fui procurar informações achando que um musical tinha gerado o filme. Vi o filme e achei dramático demais para ser montado", afirma a atriz Alessandra Maestrini. "O espetáculo é mais leve, uma história de amor cheia de graça, totalmente divertido", completa. "É o meu primeiro musical de estilo. Fico muito feliz com a oportunidade de trabalhar com essa gente talentosa e o Possi que fez um trabalho incrível", comemora Juan Alba.
Ao todo, o elenco conta com 54 artistas, sendo 16 cantores e atores, 13 bailarinos e 25 músicos da big band. No repertório, clássicos do jazz como New York New York, Sing, Sing, Sing (Louis Prima) e The Man I Love (George e Ira Gershwin). As músicas, executadas pela banda no palco, não ganharam traduções em português. Legendas serão projetadas durante o espetáculo. "O projeto já veio com a ideia de não traduzir as músicas. Como as canções não contam a história e são famosas, as legendas funcionam como um guia", explica José Possi Neto.
O ineditismo da adaptação acabou dando mais espaço à liberdade criativa. Segundo Possi, o espetáculo incorpora elementos nacionais. "Com o jazz de pano de fundo, sobra espaço para a improvisação que vem da cultura do gênero e também está presente aqui no Brasil, com o samba. Diria que é um musical com muita bossa, muito brincadeira, muita brasilidade".
Adaptações
Fabio Gomes explica que procurou Mac Rauch por três meses quando conseguiu um primeiro contato, via e-mail. Segundo ele, a idéia foi muito bem recebida e o roteiro foi feito a quatro mãos. "Ele fornecia opiniões importantes e informações que precisávamos", diz o maestro, que também se encontrou com o autor pessoalmente em Los Angeles.
Até uma Carmem Miranda, que não existia no livro nem no filme, dá o ar da graça. A estrela é interpretada pela cantora lírica Juliane Daud. "Tive que deixar o lírico do meu canto para encarar esse desafio maravilhoso. Rezo todos os dias por ela", comemora a atriz.
O elemento latino que faltava foi sugestão de Mac Rauch. "Ele mesmo sentia falta de algo latino. Nas pesquisas, descobrimos que Carmem Miranda estava em Nova York no ano de 46, em que se passa a história. A escolha não foi difícil", conta Fabio Gomes.
Outro personagem que surge na adaptação brasileira é a senhorita Perkins, vivida por Simone Gutierrez. "É uma mulher fascinante, que persegue o personagem do Juan", explica a atriz e cantora. "Tenho uma trajetória ligada aos musicais de 10 anos. Normalmente os espetáculos com modelos de Broadway já vêm prontos, com uma fórmula de atuar. Aqui tem a concepção, o desafio de criação", finaliza.
New York, New York - Teatro Bradesco (R. Turiassu, 2100, Shopping Bourbon). De 14 de abril a 3 de julho. Quintas, 21h; sextas 21h30; sábados 21h e 17h; domingos, 19h.. De R$ 20 a R$ 170. Vendas www.ingressorapido.com.br ou na bilheteira do teatro (domingo a quinta, das 12h às 20h; sexta e sábado das 12h às 22h).
Crítica
Idealizado por brasileiro, musical New York New York estreia em São Paulo
Espetáculo tem 39 artistas e 25 músicos no palco
por DENERVAL FERRARO JR.
A história dirigida por José Possi Neto narra o romance conturbado dos protagonistas, que se conhecem no pós-Segunda Guerra, em Nova York, época das big bands e dos clubes de jazz. A orquestra de 25 músicos, aliás, fica no palco, e não no habitual fosso, e volta e meia tem participação ativa na própria trama, no papel de uma... big band, claro. A produção ainda conta com 16 atores/cantores e 13 bailarinos e mais de 400 figurinos.
Não espere, porém, um espetáculo nos moldes de O Fantasma da Ópera ou A Bela e a Fera. Esse New York New York está mais próximo de um grande show de música e dança do que dos musicais repletos de efeitos especiais e canções grandiloquentes. Os cenários aqui são simples, com estruturas e objetos que entram e saem de cena, e projeções ao fundo. O forte da peça são mesmo os números musicais, standards americanos como “So in Love”, “Chatannoga Choo Choo”, “The Lady is a Tramp”, “My Way” e “Cheek to Cheek”. A competência da coreografia também é evidente, com ênfase nas cenas de sapateado. Atenção para o solo de sax tenor de Christiane Matallo, que não para de sapatear enquanto toca “All of Me”.
Simone Gutierrez interpreta Fever |
O ponto fraco da peça é sua trama, anêmica demais para segurar mais de duas horas. O romance entre os protagonistas acontece aos trancos e não gera empatia alguma. Alba defende bem as canções, mas seu Johnny soa blasé. Alessandra, com mais quilometragem de palco, tem melhor sintonia com a personagem, mas o casal não tem química. Sim, a voz da srta. Maestrini compensa os diálogos sofríveis e arrebata a plateia com interpretações poderosas, como a de “The Man I Love” e da canção-título. Aliás, a mulher canta praticamente a peça inteira. É surpreendente que ela chegue ao final não só com a voz inteira, mas dando conta tranquilamente dos agudos inclementes dos versos finais de “New York New York” – e três vezes seguidas!
Outro achado são os novos personagens, como a participação de Juliane Daud na pele de Carmen Miranda (a melhor cena do primeiro ato) e a comicidade de Maurício Xavier, como um empresário do Harlem com pendores religiosos. Acima de todos paira a atuação iluminada de Simone Gutierrez, a irritada Srta. Perkins. Simpática, naturalmente cômica e com uma voz brilhante, Simone torna-se a show stopper (aquela que para o espetáculo) – e também a show stealer (quem rouba a cena) – com sua interpretação de “Fever”. Se New York New York tivesse mais um ou dois números com a Srta. Perkins, engrossaria o caldo desse musical – saboroso em canções, mas meio insosso em dramaticidade.
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