Melancolia é interessante em sua primeira parte: mostra uma mulher enfrentando a depressão em uma situação em que deveria demonstrar felicidade, o seu casamento. Justine, a protagonista, lida com as diversas pessoas a seu redor: o noivo, a irmã, o cunhado, todas cobrando dela felicidade, num constante vai e vem entre alegria e melancolia. Na segunda parte, o filme perde interesse e fica um pouco monótono e repetitivo, em sua alegoria do planeta chamado Melancolia (que original!) que irá destruir a Terra e confirmar todo o pessimismo de Justine e do diretor em relação ao mundo. Visão pessimista aliás que vai entusiasmar (se é que isso é possível) os melancólicos de plantão. No meu caso, não compartilho da visão do diretor, e também não achei o filme nem tão especial nem tão ruim (exceto pelas cenas iniciais, que são muito bonitas, mas que são mais do mesmo, vide Anticristo - mas depois o diretor estraga tudo com uma fotografia tremida e nauseante). De qualquer forma, o fato de não compartilhar da mesma visão, não invalidaria as qualidades do filme. Mas Melancolia é assim... melancólico, meia-boca.
P.S.: Uma coisa a comentar. A trilha sonora é impactante, mas soa totalmente desproporcional às imagens, a emoção vem totalmente da música e nada das imagens, o que vai completamente contra os propósitos do Dogma que Von Trier ora participou.
Como li muitas críticas falando bem do filme, resolvi colocar uma crítica detonando o Von Trier, só para equilibrar a balança. rs.
Minha Cotação: * * *
NEM SOM, NEM FÚRIA, MAS SIGNIFICANDO NADA
http://www.criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?artigo=2219
Por LUIZ FERNANDO GALLEGO
29/7/2011
No prólogo, o rosto de Kirsten Dunst é o próprio semblante da depressão melancólica. Ao som do Prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner (que já dá clima por si só), surgem imagens de indescritível beleza, em parte graças à fotografia de Manuel Alberto Claro. Algumas destas composiçoes em câmera lenta são verdadeiros "tableaux vivants", pinturas filmadas que podem lembrar quadros oníricos do surrealista Paul Delvaux. Até que, imediatamente antes do título, vê-se um choque de planetas.
E assim se encerram as qualidades de Melancolia, o mais recente filme de Lars von Trier, famoso sobretudo pela entrevista descabelada do diretor no Festival de Cannes 2011. O que se segue é, em parte, uma espécie de patética Festa de Família (que era dirigido por Thomas Vinterberg em 1998, mas sob a griffe do “Dogma”, movimento (?) que tinha em von Trier seu nome mais conhecido na época).
A festa, no caso, é de um casamento onde a noiva (Dunst) mal disfarça sua depressão, o pai (John Hurt) se comporta como um desagradável bobo-alegre, e a mãe (Charlotte Rampling) como uma azeda iconoclasta de rituais como este. Talvez esta personagem seja porta-voz do diretor-roteirista, pois se existir algum sentido no que mostra a enjoada câmera tremida desta (longa) parte do filme seria o de (ainda?) questionar os ritos e hipocrisias sociais – ou seja, algo como chover no tantas vezes molhado.
(Recomenda-se ver ou rever Cerimônia de Casamento que Robert Altman fez há mais de 30 anos, com resultados infinitamente superiores, além de mais divertido).
Outra possível identificação do cineasta seria com a deprimida ‘Justine’, a noiva vivida por Kirsten Dunst: afinal, se a Terra talvez se choque com outro planeta (nada sutilmente chamado ‘Melancholia’ - e que menos sutilmente ainda está em rota de “esconder-se atrás do sol”- sic), quem já é melancólico fica mais sintonizado com o risco da catástrofe: afinal, viver para que? Um possível fim do mundo economizaria as energias necessárias para cometer um suicídio.
Em oposição ao desalento de ‘Justine’ (e à crítica social destemperada da mãe) ‘Claire’ (Charlotte Gainsbourg) foi quem organizou “comme il faut” a festa de matrimônio para a irmã: mesmo que tudo dê errado - e dá - Claire valoriza os rituais sociais; além de ter marido e filho, o que acentua sua angústia frente ao risco da perda de si e de seus vínculos emocionais pela possibilidade de morte no atacado.
Enquanto a depressiva parece ficar conforme face à ameaça do apocalipse final, a irmã - que tem ligações afetivas - sofre. Et pour cause. Não estar em estado de narcisismo melancólico provoca angústia de perda das relações. Seriam essas obviedades as metáforas que expressam as atuais ideias e questionamentos de von Trier? E a ciência - representada (?) pelo marido de Claire (Kiefer Sutherland) - seria confiável ao dizer que o tal planeta vai apenas passar por perto da Terra?
Para Macbeth, a vida com a consciência da finitude seria uma história narrada com som e fúria, mas significando nada. Esta é a situação, sem arco de evolução dramática, narrada em Melancolia, mas sem som (exceto pelo Prelúdio de Tristão e Isolda repetido ao paroxismo, quase reduzido a “fundo musical” de antigas rádio-novelas) e sem fúria, significando o mesmo “nada” de um slogan que Justine, em algum momento da festa, oferece ironicamente ao seu patrão (ela é de uma agência de publicidade).
Melancholia (título original do filme) se resume a isso: um nada pretensioso que não se salva nem pelo esteticismo inicial - ou eventual. Mas também com alguns takes mais bregas do que belos (como o de Dunst despida à beira de um rio). Em vez de um filme-catástrofe, o que bate nas telas é um filme que é uma catástrofe. O que não chega a estranhar, vindo de quem realizou imediatamente antes o repugnante Anticristo com os mesmo cacoetes (abertura com música clássica de enorme pathos - só que de Handel em vez de Wagner - dando clima para cenas visualmente elaboradas – mas depois... o dilúvio. Ou algo pior).
Se von Trier quis metaforizar um possível estado depressivo de que talvez sofra (e seguido de viradas para momentos de exaltação arrogante quando diz as coisas insensatas que disse em Cannes), claro que é de se lamentar sua hipotética doença bipolar. Mas lamentamos igualmente os filmes que ele vem cometendo a partir de tais possíveis estados de ânimo. Não se trata de nenhum Van Gogh tão louco quanto grande artista. É apenas von Trier, longe da promessa de Ondas do Destino, promessa que raramente se cumpriu (como no subestimado Manderlay), geralmente incapaz de ir além de artificialismos e truques que esbarram tanto na "resolução" nazistóide de Dogville como no vácuo destes seus dois filmes mais recentes.
P.S.: O prêmio de interpretação feminina dado a Kirsten Dunst no Festival de Cannes sugere uma posição “politicamente correta” do júri: uma tentativa de dizer que se o autor do filme foi declarado “persona non grata” ao Festival de Cannes, sua obra seria avaliada independentemente dos desmandos verbais do cineasta. Não é que a atriz esteja mal, mas nem o papel lhe permite maiores modulações dignas de um prêmio Seria mais pertinente premiar o fotógrafo. Pois o que mais chama a atenção no rosto da atriz (quando não está totalemente deprê ou conformada) nos momentos de beleza maquilada como noiva são seus brincos. Prêmio para a figurinista !
NEM SOM, NEM FÚRIA, MAS SIGNIFICANDO NADA
http://www.criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?artigo=2219
Por LUIZ FERNANDO GALLEGO
29/7/2011
No prólogo, o rosto de Kirsten Dunst é o próprio semblante da depressão melancólica. Ao som do Prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner (que já dá clima por si só), surgem imagens de indescritível beleza, em parte graças à fotografia de Manuel Alberto Claro. Algumas destas composiçoes em câmera lenta são verdadeiros "tableaux vivants", pinturas filmadas que podem lembrar quadros oníricos do surrealista Paul Delvaux. Até que, imediatamente antes do título, vê-se um choque de planetas.
E assim se encerram as qualidades de Melancolia, o mais recente filme de Lars von Trier, famoso sobretudo pela entrevista descabelada do diretor no Festival de Cannes 2011. O que se segue é, em parte, uma espécie de patética Festa de Família (que era dirigido por Thomas Vinterberg em 1998, mas sob a griffe do “Dogma”, movimento (?) que tinha em von Trier seu nome mais conhecido na época).
A festa, no caso, é de um casamento onde a noiva (Dunst) mal disfarça sua depressão, o pai (John Hurt) se comporta como um desagradável bobo-alegre, e a mãe (Charlotte Rampling) como uma azeda iconoclasta de rituais como este. Talvez esta personagem seja porta-voz do diretor-roteirista, pois se existir algum sentido no que mostra a enjoada câmera tremida desta (longa) parte do filme seria o de (ainda?) questionar os ritos e hipocrisias sociais – ou seja, algo como chover no tantas vezes molhado.
(Recomenda-se ver ou rever Cerimônia de Casamento que Robert Altman fez há mais de 30 anos, com resultados infinitamente superiores, além de mais divertido).
Outra possível identificação do cineasta seria com a deprimida ‘Justine’, a noiva vivida por Kirsten Dunst: afinal, se a Terra talvez se choque com outro planeta (nada sutilmente chamado ‘Melancholia’ - e que menos sutilmente ainda está em rota de “esconder-se atrás do sol”- sic), quem já é melancólico fica mais sintonizado com o risco da catástrofe: afinal, viver para que? Um possível fim do mundo economizaria as energias necessárias para cometer um suicídio.
Em oposição ao desalento de ‘Justine’ (e à crítica social destemperada da mãe) ‘Claire’ (Charlotte Gainsbourg) foi quem organizou “comme il faut” a festa de matrimônio para a irmã: mesmo que tudo dê errado - e dá - Claire valoriza os rituais sociais; além de ter marido e filho, o que acentua sua angústia frente ao risco da perda de si e de seus vínculos emocionais pela possibilidade de morte no atacado.
Enquanto a depressiva parece ficar conforme face à ameaça do apocalipse final, a irmã - que tem ligações afetivas - sofre. Et pour cause. Não estar em estado de narcisismo melancólico provoca angústia de perda das relações. Seriam essas obviedades as metáforas que expressam as atuais ideias e questionamentos de von Trier? E a ciência - representada (?) pelo marido de Claire (Kiefer Sutherland) - seria confiável ao dizer que o tal planeta vai apenas passar por perto da Terra?
Para Macbeth, a vida com a consciência da finitude seria uma história narrada com som e fúria, mas significando nada. Esta é a situação, sem arco de evolução dramática, narrada em Melancolia, mas sem som (exceto pelo Prelúdio de Tristão e Isolda repetido ao paroxismo, quase reduzido a “fundo musical” de antigas rádio-novelas) e sem fúria, significando o mesmo “nada” de um slogan que Justine, em algum momento da festa, oferece ironicamente ao seu patrão (ela é de uma agência de publicidade).
Melancholia (título original do filme) se resume a isso: um nada pretensioso que não se salva nem pelo esteticismo inicial - ou eventual. Mas também com alguns takes mais bregas do que belos (como o de Dunst despida à beira de um rio). Em vez de um filme-catástrofe, o que bate nas telas é um filme que é uma catástrofe. O que não chega a estranhar, vindo de quem realizou imediatamente antes o repugnante Anticristo com os mesmo cacoetes (abertura com música clássica de enorme pathos - só que de Handel em vez de Wagner - dando clima para cenas visualmente elaboradas – mas depois... o dilúvio. Ou algo pior).
Se von Trier quis metaforizar um possível estado depressivo de que talvez sofra (e seguido de viradas para momentos de exaltação arrogante quando diz as coisas insensatas que disse em Cannes), claro que é de se lamentar sua hipotética doença bipolar. Mas lamentamos igualmente os filmes que ele vem cometendo a partir de tais possíveis estados de ânimo. Não se trata de nenhum Van Gogh tão louco quanto grande artista. É apenas von Trier, longe da promessa de Ondas do Destino, promessa que raramente se cumpriu (como no subestimado Manderlay), geralmente incapaz de ir além de artificialismos e truques que esbarram tanto na "resolução" nazistóide de Dogville como no vácuo destes seus dois filmes mais recentes.
P.S.: O prêmio de interpretação feminina dado a Kirsten Dunst no Festival de Cannes sugere uma posição “politicamente correta” do júri: uma tentativa de dizer que se o autor do filme foi declarado “persona non grata” ao Festival de Cannes, sua obra seria avaliada independentemente dos desmandos verbais do cineasta. Não é que a atriz esteja mal, mas nem o papel lhe permite maiores modulações dignas de um prêmio Seria mais pertinente premiar o fotógrafo. Pois o que mais chama a atenção no rosto da atriz (quando não está totalemente deprê ou conformada) nos momentos de beleza maquilada como noiva são seus brincos. Prêmio para a figurinista !
FICHA TÉCNICA
Diretor: Lars von Trier
Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, John Hurt, Alexander Skarsgård, Brady Corbet, Stellan Skarsgård
Produção: Meta Louise Foldager, Louise Vesth
Roteiro: Lars von Trier
Fotografia: Manuel Alberto Claro
Duração: 136 min.
Ano: 2011
País: Alemanha/ Dinamarca/ França/ Itália/ Suécia
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Califórnia Filmes
Estúdio: Zentropa Entertainments / Memfis Film / Slot Machine / Zentropa International Köln / BIM Distribuzione / Trollhättan Film AB
Classificação: 14 anos
Eu achei o filme muito chato. É bem daqueles filmes que se fosse um curta metragem de 5 minutos estava ótima, mensagem passada. Mas não, preferiu infernizar o espectador por um longo tempo. Entediante.
ResponderExcluirDepressivo e chato... kkkkk... O Von Trier já foi melhor.
ResponderExcluirComo é que vc quer que o diretor melhore se vc deu três estrelas pra esse filme...
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