Um bom filme de ficção científica que também trabalha com a questão de viagens no tempo e a possibilidade de criar realidades paralelas. O tema é bastante interessante e sempre rende bons filmes, aqui não é exceção, colaborado pelo elenco capitaneado pelo ótimo Jake Gyllenhall.
Minha Cotação: * * * *
Contra o Tempo
por Pablo Villaça
http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7764&id_filme=5887&aba=critica
Dirigido por Duncan Jones. Com: Jake Gyllenhaal, Michelle Monaghan, Vera Farmiga, Jeffrey Wright, Russell Peters, Michael Arden, Cas Anvar e a voz de Scott Bakula.
Contra o Tempo é uma curiosa e eficaz combinação de Déjà vu e Feitiço do Tempo: do primeiro, explora a ideia de um homem que decide tentar usar uma tecnologia inovadora para salvar a vida de uma bela mulher já morta (algo que nem os criadores da máquina julgam possível); do segundo, a estrutura circular que obriga o protagonista a reviver os mesmos momentos repetidas vezes em busca de resultados diferentes. E o melhor: dirigido pelo mesmo Duncan Jones do excelente Lunar, ainda investe num herói que talvez desconheça aspectos importantes sobre a própria natureza. É, em suma, uma ficção científica exemplar: apresenta um conceito interessante, explora-o a fundo e, de quebra, nos apresenta a questões de fundo filosófico-existencial enquanto cria personagens complexos e tocantes.
Escrito por Ben Ripley (algo cada vez mais raro: uma superprodução com apenas um roteirista), Contra o Tempo traz Jake Gyllenhaal como o capitão Colter Stevens, que, certa manhã, acorda em um trem em movimento sem saber como foi parar ali. Para piorar, ele logo descobre estar no corpo de um estranho e a poucos minutos de uma explosão que matará todos a bordo. Sua missão: reviver os últimos oito minutos de vida do sujeito até descobrir quem é o responsável pelo atentado, impedindo, assim, que um segundo ato terrorista ocorra em Chicago. Guiado por uma militar (Farmiga) através de um monitor, o sujeito frustra-se ao ser informado de que não pode alterar o passado ao mesmo tempo em que tenta desvendar como se tornou parte daquela experiência.
Jogando o espectador de forma súbita na narrativa, o roteiro de Ripley é hábil ao retratar a confusão de Colter, usando nossa própria estranheza como maneira de nos aproximar do protagonista. Além disso, como o rapaz encontra-se completamente perdido, os diálogos expositivos surgem com naturalidade, permitindo que sejamos apresentados à premissa do longa e à situação do sujeito sem que isto soe artificial ou como recurso de um roteirista preguiçoso. Da mesma maneira, as diferenças graduais nas ações dos demais personagens a cada nova tentativa do herói são estabelecidas com sutileza à medida que o filme desenvolve com cuidado sua premissa absurda e instigante, explorando-a ao máximo.
Aliás, a estrutura da narrativa, com suas repetições e alterações que se complementam, é o que Contra o Tempo tem de melhor, já que as revelações acerca do vilão e de seus motivos não são particularmente impactantes ou surpreendentes. Por outro lado, ao estabelecer a personagem de Michelle Monaghan como uma motivação emocional para Colter, o filme garante nosso investimento em sua história em diferentes aspectos, o que se revela fundamental no terceiro ato – e o fato de Gyllenhaal estabelecer uma dinâmica eficaz com sua colega de elenco colabora bastante neste sentido.
Comprovando mais uma vez seu carisma e talento ao carregar o filme com facilidade, o ator é bem sucedido ao evocar a pressão crescente sobre seu personagem, fazendo uma bela transição desde sua insegurança e confusão iniciais até chegar aos modos determinados com que enfrenta a missão, convencendo-nos da inteligência de Colter e estabelecendo desde o início a mentalidade militar do rapaz (reparem como ele inicialmente presume estar em uma simulação, divertindo-se com o exercício, e como mais tarde passa a exigir informações que o permitam desempenhar melhor seu trabalho). Enquanto isso, Vera Farmiga confere um elemento importante de humanidade ao departamento que controla a experiência, demonstrando um sutil desconforto diante da frieza do cientista vivido com distanciamento calculado por Jeffrey Wright.
Jamais deixando de ressaltar a importância do fator “tempo” ao longo da projeção, o cineasta Duncan Jones (filho de David Bowie, diga-se de passagem) constrói um filme tenso ao mesmo tempo em que demonstra uma segurança admirável ao estabelecer rapidamente os elementos que desempenharão papel significante na narrativa, desde um breve plano-detalhe de uma sacola no segundo andar do vagão até os ecos distantes ouvidos por Colter já em sua primeira cena, quando ainda parece dormir. Da mesma forma, os próprios créditos iniciais do filme, que alternam entre imagens aéreas do trem e de Chicago, ajudam a estabelecer a estrutura que o longa adotará em seu desenvolvimento – e, neste sentido, é preciso aplaudir também a montagem de Paul Hirsch, que não apenas mantém o impecável ritmo da ação como ainda evoca a exaustão do herói em função das repetições intermináveis daqueles mesmos oito minutos.
Trazendo um plano memorável em seus minutos finais (você o reconhecerá quando o vir), Contra o Tempo é um filme intrigante e envolvente que certamente poderia dar origem a uma boa franquia, já que não seria difícil imaginar diversas outras tramas possibilitadas pelo bom conceito criado por Ben Ripley. Enquanto isso não acontece, resta-nos seguir os passos de seu herói, já que definitivamente não me importarei em revisitar esta produção em outras ocasiões. Boas ficções científicas são espécimes raros na Hollywood contemporânea.
30 de Setembro de 2011
Dirigido por Duncan Jones. Com: Jake Gyllenhaal, Michelle Monaghan, Vera Farmiga, Jeffrey Wright, Russell Peters, Michael Arden, Cas Anvar e a voz de Scott Bakula.
Contra o Tempo é uma curiosa e eficaz combinação de Déjà vu e Feitiço do Tempo: do primeiro, explora a ideia de um homem que decide tentar usar uma tecnologia inovadora para salvar a vida de uma bela mulher já morta (algo que nem os criadores da máquina julgam possível); do segundo, a estrutura circular que obriga o protagonista a reviver os mesmos momentos repetidas vezes em busca de resultados diferentes. E o melhor: dirigido pelo mesmo Duncan Jones do excelente Lunar, ainda investe num herói que talvez desconheça aspectos importantes sobre a própria natureza. É, em suma, uma ficção científica exemplar: apresenta um conceito interessante, explora-o a fundo e, de quebra, nos apresenta a questões de fundo filosófico-existencial enquanto cria personagens complexos e tocantes.
Escrito por Ben Ripley (algo cada vez mais raro: uma superprodução com apenas um roteirista), Contra o Tempo traz Jake Gyllenhaal como o capitão Colter Stevens, que, certa manhã, acorda em um trem em movimento sem saber como foi parar ali. Para piorar, ele logo descobre estar no corpo de um estranho e a poucos minutos de uma explosão que matará todos a bordo. Sua missão: reviver os últimos oito minutos de vida do sujeito até descobrir quem é o responsável pelo atentado, impedindo, assim, que um segundo ato terrorista ocorra em Chicago. Guiado por uma militar (Farmiga) através de um monitor, o sujeito frustra-se ao ser informado de que não pode alterar o passado ao mesmo tempo em que tenta desvendar como se tornou parte daquela experiência.
Jogando o espectador de forma súbita na narrativa, o roteiro de Ripley é hábil ao retratar a confusão de Colter, usando nossa própria estranheza como maneira de nos aproximar do protagonista. Além disso, como o rapaz encontra-se completamente perdido, os diálogos expositivos surgem com naturalidade, permitindo que sejamos apresentados à premissa do longa e à situação do sujeito sem que isto soe artificial ou como recurso de um roteirista preguiçoso. Da mesma maneira, as diferenças graduais nas ações dos demais personagens a cada nova tentativa do herói são estabelecidas com sutileza à medida que o filme desenvolve com cuidado sua premissa absurda e instigante, explorando-a ao máximo.
Aliás, a estrutura da narrativa, com suas repetições e alterações que se complementam, é o que Contra o Tempo tem de melhor, já que as revelações acerca do vilão e de seus motivos não são particularmente impactantes ou surpreendentes. Por outro lado, ao estabelecer a personagem de Michelle Monaghan como uma motivação emocional para Colter, o filme garante nosso investimento em sua história em diferentes aspectos, o que se revela fundamental no terceiro ato – e o fato de Gyllenhaal estabelecer uma dinâmica eficaz com sua colega de elenco colabora bastante neste sentido.
Comprovando mais uma vez seu carisma e talento ao carregar o filme com facilidade, o ator é bem sucedido ao evocar a pressão crescente sobre seu personagem, fazendo uma bela transição desde sua insegurança e confusão iniciais até chegar aos modos determinados com que enfrenta a missão, convencendo-nos da inteligência de Colter e estabelecendo desde o início a mentalidade militar do rapaz (reparem como ele inicialmente presume estar em uma simulação, divertindo-se com o exercício, e como mais tarde passa a exigir informações que o permitam desempenhar melhor seu trabalho). Enquanto isso, Vera Farmiga confere um elemento importante de humanidade ao departamento que controla a experiência, demonstrando um sutil desconforto diante da frieza do cientista vivido com distanciamento calculado por Jeffrey Wright.
Jamais deixando de ressaltar a importância do fator “tempo” ao longo da projeção, o cineasta Duncan Jones (filho de David Bowie, diga-se de passagem) constrói um filme tenso ao mesmo tempo em que demonstra uma segurança admirável ao estabelecer rapidamente os elementos que desempenharão papel significante na narrativa, desde um breve plano-detalhe de uma sacola no segundo andar do vagão até os ecos distantes ouvidos por Colter já em sua primeira cena, quando ainda parece dormir. Da mesma forma, os próprios créditos iniciais do filme, que alternam entre imagens aéreas do trem e de Chicago, ajudam a estabelecer a estrutura que o longa adotará em seu desenvolvimento – e, neste sentido, é preciso aplaudir também a montagem de Paul Hirsch, que não apenas mantém o impecável ritmo da ação como ainda evoca a exaustão do herói em função das repetições intermináveis daqueles mesmos oito minutos.
Trazendo um plano memorável em seus minutos finais (você o reconhecerá quando o vir), Contra o Tempo é um filme intrigante e envolvente que certamente poderia dar origem a uma boa franquia, já que não seria difícil imaginar diversas outras tramas possibilitadas pelo bom conceito criado por Ben Ripley. Enquanto isso não acontece, resta-nos seguir os passos de seu herói, já que definitivamente não me importarei em revisitar esta produção em outras ocasiões. Boas ficções científicas são espécimes raros na Hollywood contemporânea.
30 de Setembro de 2011
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