Como diz bem a crítica abaixo, "Margin Call" funciona como um contracampo ao filme "Trabalho Interno". Ambos falam sobre o crack financeiro de 2008, mas aqui a visão é menos ampla, vemos uma situação particular, que acaba representando bem o pensamento do mundo financeiro x a realidade das pessoas em geral. Colaborado por um elenco primoroso, em que se destacam Jeremy Irons e Kevin Spacey, o filme por vezes é complicado pelos termos financeiros, mas por outro consegue mostrar os meandros de uma empresa, desde a área de gestão de riscos que nunca é valorizada até os executivos que estão mais preocupados com o lucro do que com a vida da empresa.
Minha Cotação: * * * *
CRÍTICA | CRÍTICOS.COM
LONGA JORNADA CRISE ADENTRO
Por CARLOS ALBERTO MATTOS
Por CARLOS ALBERTO MATTOS
http://www.criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?artigo=2284
Nada mais adequado do que o subtítulo de filme-catástrofe sapecado no lançamento brasileiro de Margin Call – O Dia Antes do Fim. O dia C do crack financeiro de 2008 é contado do ponto de vista da primeira empresa que teria escancarado a crise oferecendo-se em holocausto no mercado para que seus mais altos executivos pudessem sobreviver. O clima é de apocalipse. Não à toa, aqueles homens apavorados diante das telas de computador se assemelham aos cientistas de uma central de comando monitorando um choque inevitável de planetas em filme de ficção científica.
Margin Call já foi chamado de “continuação de Wall Street”, em referência aos dois filmes de Oliver Stone. Mas eu o vejo mais como um contracampo do documentárioTrabalho Interno. Enquanto este tratava a crise numa perspectiva macro, enfeixando-a histórica e contextualmente, Margin Call o faz por dentro de um case específico. Nem os personagens, nem a empresa têm contraparte definida no mundo real, mas, como anotou o crítico americano Roger Ebert, é bem claro que o nome do chefão John Tuld, vivido por Jeremy Irons, lembra o de Richard Fuld, o CEO da Lehman Brothers que lucrou milhões com a falência de sua empresa.
Há uma cena discreta mas muito simbólica no filme. Em dado momento da longa noite de agonia, dois executivos entram num elevador onde se encontra uma faxineira. Eles continuam a conversa – cifrada para simples mortais – como se não houvesse ninguém com eles no elevador. A faxineira, por sua vez, mantém os olhos fixos para a frente e uma expressão impassível, misto de respeito e ignorância. A cena expressa bem o nível de alienação recíproca entre o mundo das finanças e o mundo do trabalho. De certa forma, expressa também a relação da maioria dos espectadores com as discussões que presenciamos dentro e fora do elevador. E é justamente aí que Margin Call se revela um prodígio de dramaturgia.
O teor de abstração e de “financês” de quase tudo o que ouvimos é espantoso, mas ainda assim acompanhamos a jornada noite adentro daqueles executivos com absoluta compreensão e engajamento. Tanto em termos de roteiro quanto de direção, é espantoso o trabalho de J.C. Chandor, vindo de comerciais, videoclipes e pequenos documentários para essa promissora estreia no longa-metragem. A noção de timing, a propriedade dos diálogos e a maestria na direção dos atores nos coloca no centro de um torvelinho de vaidades, oportunismo e humilhação que por vezes tangencia Eugene O’Neill, Arthur Miller ou mesmo uma tragédia de Shakespeare.
De resto, não é desprezível o efeito catártico provocado pelo filme. Afinal, como é bom ver grandes porcos capitalistas em apuros.
FICHA TÉCNICA
Diretor: J.C. Chandor
Elenco: Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons, Zachary Quinto, Penn Badgley, Simon Baker, Mary McDonnell, Demi Moore, Stanley Tucci
Produção: Robert Ogden Barnum, Michael Benaroya, Neal Dodson, Joe Jenckes, Corey Moosa, Zachary Quinto
Roteiro: J.C. Chandor
Fotografia: Frank G. DeMarco
Trilha Sonora: Nathan Larson
Duração: 109 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Before The Door Pictures / Benaroya Pictures / Washington Square Films
Classificação: 10 anos
Nada mais adequado do que o subtítulo de filme-catástrofe sapecado no lançamento brasileiro de Margin Call – O Dia Antes do Fim. O dia C do crack financeiro de 2008 é contado do ponto de vista da primeira empresa que teria escancarado a crise oferecendo-se em holocausto no mercado para que seus mais altos executivos pudessem sobreviver. O clima é de apocalipse. Não à toa, aqueles homens apavorados diante das telas de computador se assemelham aos cientistas de uma central de comando monitorando um choque inevitável de planetas em filme de ficção científica.
Margin Call já foi chamado de “continuação de Wall Street”, em referência aos dois filmes de Oliver Stone. Mas eu o vejo mais como um contracampo do documentárioTrabalho Interno. Enquanto este tratava a crise numa perspectiva macro, enfeixando-a histórica e contextualmente, Margin Call o faz por dentro de um case específico. Nem os personagens, nem a empresa têm contraparte definida no mundo real, mas, como anotou o crítico americano Roger Ebert, é bem claro que o nome do chefão John Tuld, vivido por Jeremy Irons, lembra o de Richard Fuld, o CEO da Lehman Brothers que lucrou milhões com a falência de sua empresa.
Há uma cena discreta mas muito simbólica no filme. Em dado momento da longa noite de agonia, dois executivos entram num elevador onde se encontra uma faxineira. Eles continuam a conversa – cifrada para simples mortais – como se não houvesse ninguém com eles no elevador. A faxineira, por sua vez, mantém os olhos fixos para a frente e uma expressão impassível, misto de respeito e ignorância. A cena expressa bem o nível de alienação recíproca entre o mundo das finanças e o mundo do trabalho. De certa forma, expressa também a relação da maioria dos espectadores com as discussões que presenciamos dentro e fora do elevador. E é justamente aí que Margin Call se revela um prodígio de dramaturgia.
O teor de abstração e de “financês” de quase tudo o que ouvimos é espantoso, mas ainda assim acompanhamos a jornada noite adentro daqueles executivos com absoluta compreensão e engajamento. Tanto em termos de roteiro quanto de direção, é espantoso o trabalho de J.C. Chandor, vindo de comerciais, videoclipes e pequenos documentários para essa promissora estreia no longa-metragem. A noção de timing, a propriedade dos diálogos e a maestria na direção dos atores nos coloca no centro de um torvelinho de vaidades, oportunismo e humilhação que por vezes tangencia Eugene O’Neill, Arthur Miller ou mesmo uma tragédia de Shakespeare.
De resto, não é desprezível o efeito catártico provocado pelo filme. Afinal, como é bom ver grandes porcos capitalistas em apuros.
FICHA TÉCNICA
Diretor: J.C. Chandor
Elenco: Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons, Zachary Quinto, Penn Badgley, Simon Baker, Mary McDonnell, Demi Moore, Stanley Tucci
Produção: Robert Ogden Barnum, Michael Benaroya, Neal Dodson, Joe Jenckes, Corey Moosa, Zachary Quinto
Roteiro: J.C. Chandor
Fotografia: Frank G. DeMarco
Trilha Sonora: Nathan Larson
Duração: 109 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Before The Door Pictures / Benaroya Pictures / Washington Square Films
Classificação: 10 anos
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