Embarque nas narrativas de viagem
Por Andréia Silva
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"As Viagens de Marco Polo", o pioneiro dos livros de viagem |
Desde os tempos de Marco Polo – talvez o pioneiro da literatura de viagem em As Viagens de Marco Polo, onde revelou suas andanças por China e Índia, fato até hoje questionado por alguns historiadores – aos de George Orwell, Byron, Henry James e Charles Dickens, podemos também dividir os escritores entre turistas e viajantes. Os primeiros guardaram para si as memórias dos lugares por onde passaram ou usaram-nas de inspiração para outras histórias. Os segundos colocaram a jornada no papel nas chamadas narrativas de viagens.
Esses textos são em sua grande maioria de não ficção, com relatos autobiográficos e imersão do autor ou personagem nesse universo. Além disso, reúnem muita aventura e fantasia.
"É um texto que tem a descoberta do mundo, de personagens, de situações sociais, contextos históricos e, eventualmente, paisagens como o eixo central, a partir do deslocamento do autor ou protagonista para territórios diferentes do seu habitat normal", diz o professor da USP e cofundador da ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário), Edvaldo Pereira Lima, ao descrever uma das marcas do gênero: a descoberta.
Mas o que torna uma viagem tão rica? Na verdade, quase tudo. "A viagem está muito associada à descoberta de mundos inexplorados, desconhecidos; ao mesmo tempo, a viagem tem a ver com essa necessidade profunda de nos renovarmos. Intuitivamente, os bons autores de narrativas de viagens sabem dessas características. Por isso, oferecem textos que, muito mais do que um relato, entregam ao leitor vivências simbólicas, sensuais, sensórias de imersão na aventura da descoberta do que nos é estranho, diferente, distante", diz Edvaldo, que experimentou essa narrativa em seu livro Colômbia Espelho América, contando sobre a passagem pelo país sul-americano.
Jack Kerouac |
Já para os escritores, Edvaldo conta que o gênero oferece uma liberdade para que o autor utilize os mais diversos recursos do arsenal literário, e também na vivência, pois na maioria dos livros o escritor assume o papel de protagonista. “Escritores americanos jovens do século 19 já faziam de tudo para poder sair pelo mundo em busca de inspiração em países e regiões distantes, intuitivamente sabendo de como as viagens trazem temas, experiências, personagens e vivências”.
O resultado de algumas dessas experiências você vê abaixo. Embarque.
Um Adivinho Me Disse: Viagem Pelo Misticismo do Oriente, de Tziano Terzani
O best-seller do escritor italiano é um bom exemplo de que trocar o avião pelas viagens em estrada e no mar pode render muito mais histórias e descobertas. Foi o que o próprio Terzani fez neste livro, após ser aconselhado por um adivinho chinês a evitar percursos aéreos. “É um ótimo exemplo de que a viagem – e, portanto, a narrativa de viagem – pode ser uma aventura de grande transformação pessoal e de decisiva expansão de consciência e da autoidentidade”, diz Edvaldo.
Na Patagônia, de Bruce Chatwin
Em qualquer lugar que você procure, vai encontrar a seguinte definição para este autor: o escritor que mudou a história dos livros de viagem em língua inglesa. Jornalista de profissão, certo dia cansou-se da rotina e entregou uma carta de demissão com uma única frase: “Fui para a Patagônia”. Dessa viagem, Chatwin produziu um dos livros mais famosos do gênero, Na Patagônia, onde ele narra sua peregrinação do Rio Negro até Ushuaia, seu contato com os povos locais e lugares desconhecidos na região que, para muitos, não é nada mais do que “o fim do mundo”. Chatwin também escreveu ficções, mas, antes de morrer, em 1989, deixou outro livro de viagem: As Linhas da Canção, sobre sua peregrinação com os povos aborígenes da Austrália.
O Grande Bazar Ferroviário: De Trem Pela Ásia, de Paul Theroux
A Ásia descrita pelo escritor americano Paul Theroux pode não ser a mesma de hoje, 37 anos depois, claro. No entanto, os passos e os caminhos trilhados pelo autor a bordo de trens mostra como conhecer bons personagens e histórias. A obra conta a viagem de Theroux por 50 mil quilômetros de estradas de ferro, de Londres a Tóquio, passando por estações de trem luxuosas e precárias, e conhecendo personagens diversos, desde um traficante de ópio até um jovem que vivia perdendo suas conexões. Escreveu ainda outros livros de viagem, o suficiente para começar uma biblioteca do gênero só com os trabalhos do autor.
Pé na Estrada e Viajante Solitário, de Jack Kerouac
Kerouac talvez seja o autor mais pop de livros de viagem pelo seu Pé Na Estrada. Agora com uma adaptação no cinema, a obra do autor tornou-se um clássico beatnik. O livro, lançado em 1957, conta a jornada autobiográfica dos amigos Sal Paradise (o próprio Kerouac) e Dean Moriarty (o também escritor Neal Cassady) ao cruzarem os Estados Unidos. Seguindo a mesma ideia, contou suas aventuras pela Europa em Viajante Solitário.
Crônica Japonesa, de Nicolas Bouvier
Depois de passar por diversos lugares, como o Afeganistão, o Paquistão e a Índia, o escritor-viajante suíço de língua francesa parte para o Japão, país onde já havia estado. Volta nos anos 1955 e 1956 e escreve crônicas sobre suas experiências pessoais, recontando um pouco da história do país. Bouvier não registra suas viagens apenas em texto, mas também em fotos. Em 2007, a Pinacoteca de São Paulo recebeu uma mostra com as fotografias dele. As imagens foram feitas entre 1953 e 1955, durante uma viagem de Genebra ao Ceilão dirigindo um pequeno Fiat Topolino. O trajeto também foi retratado no livro L’Usage du Monde, em 1960.
Os Autonautas da Cosmopista, Julio Cortázar e Carol Dunlop
Em maio de 1982, Julio Cortázar e a mulher Carol Dunlop partiram de Paris para Marselha em um furgão. O plano era viajar durante um mês, fazendo paradas em todos os hotéis e restaurantes da estrada. A motivação da aventura? Queriam enxergar e perceber o que não vemos quando partimos para uma viagem na estrada. A regra, durante toda essa odisseia, era não sair nunca da autopista.
Cem Dias Entre o Céu e a Terra, de Amyr Klink
No Brasil, Klink é sem dúvida um dos grandes nomes de narrativas de viagem. No caso, aventuras marítimas. Já escreveu cinco livros. O mais conhecido é Cem Dias Entre o Céu e a Terra, o relato de sua primeira travessia do Atlântico Sul em barco a remo, apelidado por ele de 'lâmpada flutuante', realizada em 1984.
A Última Casa de Ópio, Nick Tosches
Publicada primeiro como reportagem na revista Vanity Fair, em 2000, a obra retrata uma viagem de Tosches, que sai de Nova York – já que o objeto desejado era impossível de ser encontrado lá – em uma busca inusitada pelo Oriente: quer encontrar uma tradicional casa de ópio.
Quem sabe numa outra vida daria pra ler esses livros, quando houver mais tempo... essa já está tomada de coisas pra fazer...
ResponderExcluirImagina, logo logo você se aposenta e poder ler esses livros num resort por aí...
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