3 de fev. de 2012

Histórias Cruzadas


Uma boa história sobre uma realidade nem tão distante, onde negros e brancos não podem usar o mesmo banheiro. O filme conta com as interpretações de Viola Davis, Octavia Spencer e Jessica Chastain, indicadas ao Oscar e duas delas com grandes chances (o filme também ganhou o prêmio de melhor elenco no SAG Awards), além de também indicado ao Oscar de melhor filme. Como diz a crítica abaixo, é um feel good movie, porque apesar do drama da discriminação racial, a história nos dá o direito de sonhar e nos deliciar com uma reviravolta. E tem a já clássica cena da torta de chocolate.

P.S.: Os críticos estão reclamando que o filme abusa do dramalhão para tentar arrancar lágrimas (tem até personagem com câncer) e o filme mostra uma situação em que os negros só conseguem superar as dificuldades com ajuda dos brancos. Enfim, é uma leitura possível, mas não foi a minha.

Minha Cotação: * * * *


CRÍTICA | CINECLICK
HISTÓRIAS CRUZADAS
Heitor Augusto
http://www.cineclick.com.br/criticas/ficha/filme/historias-cruzadas/id/2895

Histórias Cruzadas mostra que é possível flertar com o feel good movie sem descer a um nível humilhante de manipulação como Um Sonho Possível. Com um elenco feminino afinado e potente, a protagonista Viola Davis merece não só uma estatueta, mas um agradecimento da Academia por engrandecer o trabalho das atrizes.

Seria mais justo com o filme de Tate Taylor afastá-lo do gênero água com açúcar e colocá-lo mais próximo das intenções A Cor Púrpura, épico que Steven Spielberg fez em 1985 para contar a saga de uma família negra no sul dos Estados Unidos.

Inspirado no livro The Help, o filme de Taylor acompanha a saga de uma jovem aspirante a escritora (Emma Stone) determinada a contar os abusos raciais sofridos pelas governantas negras no Mississipi, estado sulista dos EUA. A primeira a ter coragem de romper o cordão do silêncio, opressão e violência é Aibileen (Viola).

O enredo é ambientado numa pequena cidade, Jacksontown, no começo dos anos 1960. Não há meio termo e a divisão é clara: uma elite branca, reacionária e escravocrata, representada pela malvada Hilly (Bryce Dallas Howard), e o contingente de mulheres negras cuja única alternativa de trabalho é ser governanta. A aguerrida Minny (Octavia Spencer, vencedora do Globo de Ouro de Atriz Coadjuvante) é uma delas.


Personagens femininas

Interessante notar o desnível de um país gigante como os Estados Unidos. O filme se passa no comecinho dos anos 1960, quando o movimento de Direitos Civis chacoalharia os norte-americanos. Mas no Mississipi de Histórias Cruzadas tem-se a impressão de viver no final do Século 19! Não fosse pela televisão em algumas cenas ou pelos carrões brilhantes, seria difícil identificar que o filme se passa nos anos 60, tamanho o atraso e o conservadorismo da região.

Outra sutileza de Histórias Cruzadas é a presença dominante das mulheres. São elas que comandam a ação, patroas ou empregadas, opressoras ou oprimidas. No geral, os maridos têm aparições pontuais – sejam brancos ou negros – e pouco louváveis, sempre para reforçar a ordem de “quem manda sou eu”. Não deixa de ser melancólico os almoços “beneficentes” das esposas ricas que nada têm a acrescentar ao mundo – mulheres que se parecem como troféus nas estantes dos maridos – ou de ser tocante a cumplicidade das governantas em se protegerem até onde for possível.

É na confiança das relações tecidas com paciência que o cordão se rompe. Claro que no afã de sensibilizar, Histórias Cruzadas também comete seus deslizes, como exageros na montagem didática (governanta é humilhada e na cena seguinte resolve contar como a categoria é aviltada diariamente). Ou no tom da música, às vezes um pouquinho acima do necessário.

Se comete enganos, porém, o filme também faz escolhas certas. Elas estão na qualidade do elenco (Octavia Spencer e Jessica Chastain são boas coadjuvantes), na fotografia (Stephen Goldblatt decide criar um sul colorido) e no uso preciso da narração em off. Sem contar a potência da história e do heroísmo dos personagens que assumiram riscos – uns mais, outros menos – quando as próprias vidas estavam em jogo.

Histórias Cruzadas é um filme sobre liberdade e já é o queridinho da cota negra anual de Hollywood. Se nos últimos anos o posto informal foi ocupado por Preciosa – Uma História de Esperança e Um Sonho Possível, é a vez do filme de Tate Taylor ser louvado.

Com certo merecimento, é verdade. Será justo se o reconhecimento vier em forma de pelo menos uma estatueta para Viola Davis.


FICHA TÉCNICA
Diretor: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Mike Vogel, Allison Janney, Viola Davis, Ahna O'Reilly, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Anna Camp, Eleanor Henry, Emma Henry, Chris Lowell
Produção: Michael Barnathan, Chris Columbus, Brunson Green
Roteiro: Tate Taylor, baseado na obra de Kathryn Stockett
Fotografia: Stephen Goldblatt
Trilha Sonora: Thomas Newman
Duração: 146 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Disney
Estúdio: 1492 Pictures / Imagenation Abu Dhabi FZ / Harbinger Pictures / DreamWorks SKG / Reliance Entertainment / Participant Media
Classificação: 14 anos


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