Simplesmente emocionante e maravilhosa essa homenagem de Martin Scorsese ao cinema. Primeiro, depois de Avatar, é o filme que melhor usa o 3D de forma empolgante e relevante para a produção. Segundo, a direção de arte e a fotografia são incríveis: os cenários são maravilhosos, a forma como a câmera persegue Hugo pelos corredores e áreas internos da estação de trem, como o filme consegue recriar a Paris de antigamente, ou como recria os filmes de Georges Meliés, são tocantes. Terceiro, o filme é uma história envolvente de um menino que precisa estabelecer laços familiares. Um menino que precisa entender qual a sua função, o seu propósito nesse mundo. Nessa história, o único senão do filme é a interpretação/personagem de Sacha Baron Cohen, que destoa do tom emotivo do resto do filme e não consegue funcionar a contento como alívio cômico. E finalmente, porém a melhor coisa do filme, é uma incrível homenagem ao cinema, que me fez chorar durante inúmeras sequências. Scorsese conseguiu traduzir em um filme o que é a paixão pelo cinema, porque o cinema nos faz sonhar e como essa paixão pode mudar nossas vidas.
Minha Cotação: * * * * *
CRÍTICA | BLOG DO RUBENS EWALD FILHO
16 fevereiro 2012
Estreia – A Invenção de Hugo Cabret
Foi o campeão de indicações ao Oscar este ano, começando por melhor filme e melhor diretor (neste fim de semana Scorsese ganhou do Bafta inglês o prêmio por sua carreira, além dos prêmios de desenho de produção - que é o mesmo que direção de arte - e som). Foi indicado ainda para Oscars de fotografia, direção de arte, figurino, montagem, trilha musical (Howard Shore), mixagem, edição de som, efeitos visuais e roteiro adaptado).
Não faço segredo que este é o meu filme favorito no Oscar deste ano, muito superior ao O Artista (que é bonitinho, simpático, divertido, mas deve muito a Cantando na Chuva e nada traz de novo). Também é uma homenagem ao começo do cinema só que às avessas. O artista homenageia Hollywood e inclusive apesar de ser francês rodou por lá. Aqui, Hugo homenageia os primórdios do cinema francês, já que foi lá que oficialmente nasceu o cinematógrafo dos Irmãos Lumiére, teve em 1895 a primeira apresentação oficial de cinema como entendemos ainda hoje e pouco depois surgiria o primeiro artista do cinema, justamente a quem o filme homenageia Georges Mélies.
Acho bom fazer um parêntesis e falar em Meliès.
Méliès, Georges (1861-1938) - Não é sintomático que o primeiro grande diretor da história do cinema tenha morrido na miséria, que a maior parte de seus filmes tenham se perdido e que sua filmografia seja impossível de se estabelecer com certeza! Ao menos, Tom Hanks fez uma bela homenagem a ele, na sua produção para a HBO. Da Terra à Lua/ From the Earth the Moon, 1998), vivendo-o no último episódio da série (por que foi de Méliès o primeiro filme sobre o tema). Aliás, o filme restaurado e colorido a mão foi apresentado na última Mostra Internacional de São Paulo!
Este francês de Paris, onde nasceu em 8 de dezembro, é considerado pelos seus patrícios com o pai da arte do cinema, o criador da “mise en scène”, o primeiro cineasta a se considerar um artista. Vindo do teatro, construiu em Montreuil o primeiro estúdio (“atelier des poses”) utilizando, com trucagens cinematográficas, todos os recursos do teatro: atores, décors, figurinos, cenários, maquiagens. Opunha-se a Lumière e seu estilo documentarista.
Méliès, Georges (1861-1938) - Não é sintomático que o primeiro grande diretor da história do cinema tenha morrido na miséria, que a maior parte de seus filmes tenham se perdido e que sua filmografia seja impossível de se estabelecer com certeza! Ao menos, Tom Hanks fez uma bela homenagem a ele, na sua produção para a HBO. Da Terra à Lua/ From the Earth the Moon, 1998), vivendo-o no último episódio da série (por que foi de Méliès o primeiro filme sobre o tema). Aliás, o filme restaurado e colorido a mão foi apresentado na última Mostra Internacional de São Paulo!
Este francês de Paris, onde nasceu em 8 de dezembro, é considerado pelos seus patrícios com o pai da arte do cinema, o criador da “mise en scène”, o primeiro cineasta a se considerar um artista. Vindo do teatro, construiu em Montreuil o primeiro estúdio (“atelier des poses”) utilizando, com trucagens cinematográficas, todos os recursos do teatro: atores, décors, figurinos, cenários, maquiagens. Opunha-se a Lumière e seu estilo documentarista.
Abordou todos os gêneros, desde a contestação (L'Affaire Dreyfus, 1899) até o conto de fadas Cendrillon, 1900; Barbe Bleue, 1901) e a ficção científica à la Julio Verne (A la Conquête du Pôle, 20.000 Fleuves sous les Mers, Le Voyage à la Lune, 1902). Foi este último filme que o consagrou internacionalmente, influenciando muito o progresso da indústria cinematográfica. Mas, em 1908, ele caía vítima desse progresso, ficando completamente arruinado em 1914, tendo que vender doces para sobreviver. Mas, pouco antes de morrer em 21 de janeiro de 1938, foi reabilitado por Langlois e seu grupo.
O livro original de Brian Selznick saiu no Brasil em 2007 pelas Edições SM e não teve maior repercussão. Ele já tem aquilo que poderia ser o maior defeito do filme, é dividido em duas partes, que não chegam muito a se unir. A primeira mostrando o menino Hugo e seus percalços, a segunda o seguindo na resolução do outro mistério, o do robô (não quero e não devo dar muitos detalhes para não estragar o prazer de ver o filme). Scorsese, que de bobo não tem nada, deve ter percebido essa falha (e que o filme também poderia ter uma barriga no meio), que resolveu o problema não apenas com uma sequência onírica mas duas, ambas com sequências espetaculares que capturam novamente o espectador.
Uma recomendação importante: procurem assistir o filme em 3D (e se possível IMAX). Vocês já devem ter lido a respeito da decisão de Scorsese em fazer um filme em 3D que sempre foi fascinado pelos recursos dessa técnica desde que viu Museu de Cera nos cinemas em 1953. Quando finalmente apareceu a chance ele fez um grande esforço (junto com sua equipe tradicional e super competente) para fazer um filme onde a fotografia e a direção de arte procurassem justamente usar todos os recursos de profundidade da técnica nova. Na verdade, todos os outros filmes de 3D jogavam coisas na tela e procuravam assustar as crianças mas não aprofundaram ou pesquisaram as suas possibilidades. Este Hugo é o primeiro. E o resultado é fabuloso, um grande espetáculo visual, que mais parece um livro ilustrado de fantasia e encantamento.
Mas aí está justamente um dos problemas comerciais do filme: é antes de tudo uma fantasia para crianças e por tabela apaixonados por cinema. Quando os adultos descobrirem isso (o trailer tenta disfarçar, mas em vão) certamente o evitarão assistir (por outro lado não é infantil. É mais para menino sofisticado dos anos 40! Não sei se a geração videogame irá embarcar nele! Duvido).
Ou seja, é um filme que também vai contra a maré e seu resultado de bilheteria é até surpreendente (rendeu até agora nos EUA US$ 65 milhões de dólares para um orçamento de US$ 150 milhões ). Outro detalhe legal: quem o escreveu é sobrinho neto do celebre David O. Selznick que produziu E o Vento Levou e foi o mais famoso produtor independente de Hollywood (por sua vez o pai dele também era pioneiro produtor). Ou seja, sua declaração de amor ao cinema é mais do que justificada! (parece que ele faz ponta no filme como “um estudante ansioso” dizem os créditos).
Scorsese acertou na escolha do elenco com uma exceção, que quase derruba o filme: colocar Sacha Baron Cohen (Borat) como o policial inspetor da estação de trem (que seria de Montparnasse, onde Meliès realmente trabalhou como fabricante de brinquedos). É uma interpretação caricata, que fica no fio da navalha e por pouco não estraga o filme. É verdade que todo o filme é estilizado, rodado em estúdio na Inglaterra (usando tanto Pinewood quanto Shepperton (onde foi reconstituída uma estação de trem parisiense dos anos 30) propositalmente artificial, até para dar a tudo um clima meio de conto de fadas. Por outro lado acertou em por como Hugo o menino Asa Butterfield de O Menino do Pijama de Listras, assim como todo o resto do elenco, muitos deles em papéis pequenos ou quase sem fala (entre eles, Jude Law como o pai do menino, o grande Christopher Lee como o dono da livraria, Emily Mortimer e Lisette e Kingsley como o misterioso dono da loja de brinquedos).
Como cinéfilo, Scorsese também prestou atenção nos detalhes. O robô realmente existe e foi criado entre 1768 e 1774 (está exposto no Musée d´Art et D´Histoire em Neuchatel, Suiça e realmente age e desenha figuras como no filme).
A canção que toca no café quando presenteiam os cachorros é Frou Frou, a mesma que Jean Gabin ouvia no começo de A Grande Ilusão, de Jean Renoir. O acidente com o trem relembra um fato real acontecido em 1895. No começo da cena da estação há referência a personagens que seriam o músico Django Reinhardt, James Joyce e Winston Churchill. O poema que Isabelle recita na estação é A Birthdat, de Christina Rossetti. Scorsese faz pontinha como o fotógrafo que tira a foto de Meliés diante de seu novo estúdio.
Claro que não vai ganhar nada além de prêmios técnicos, mas acho fantástico que Scorsese no auge de sua forma tenha podido fazer um filme como este, inovador e ao mesmo tempo clássico. Dá esperanças de que nem tudo está perdido.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Martin Scorsese
Elenco: Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ray Winstone, Emily Mortimer, Christopher Lee, Helen McCrory, Michael Stuhlbarg, Frances de la Tour
Produção: Johnny Depp, Tim Headington, Graham King, Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Fotografia: Robert Richardson
Trilha Sonora: Howard Shore
Duração: 126 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Aventura
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: GK Films
Classificação: Livre
Eu amei o filme!!! E chorei em vários momentos também...Concordo com você!!! Mas mesmo o Borat - Sacha Baron Cohen - eu achei que estava bem...bjo
ResponderExcluirQue legal, Paulinha... Estava sentindo falta de filmes bons como esse!!!
ResponderExcluir