1 de nov. de 2011

Contágio



O filme funciona muito bem como thriller assustador, que mostra a propagação de um vírus letal. É surpreendente que eu não tenha desenvolvido alguns tipo de transtorno obsessivo após a projeção, depois de tantas cenas mostrando pessoas tossindo em lugares públicos ou tocando em corrimões ou objetos contaminados. O filme só não funciona como reflexão a respeito de uma situação como essa, já que não tem nenhuma crítica ao governo, nem às indústrias farmacêuticas, nem à exploração da mídia em casos de tragédias. Os personagens são mal desenvolvidos e ficamos com a impressão de que os atores foram mal aproveitados. Finalmente, a única crítica é para um blogueiro interpretado por Jude Law, que vira o vilão do filme, assim como o papel da internet, vista como um canal de propagação de informações não confiáveis. Como se pudéssemos de fato confiar nos jornais e na televisão.

Minha Cotação: * * *


Crítica Cineweb
26/10/2011
http://www.cineweb.com.br/filmes/filme.php?id_filme=3521

Steven Soderbergh é aquele tipo de diretor que já tem tudo – Oscar (por Traffic, 2000), fama e dinheiro, especialmente por ter-se tornado um produtor com faro para sucessos de bilheteria e amizades com grandes astros, como Matt Damon, Julia Roberts e Brad Pitt, que estrelaram Onze Homens e um Segredo (2001) e suas continuações.

Possivelmente, foi apenas por capricho, ou, quem sabe, vontade de experimentar, que topou conduzirContágio, seu primeiro filme-catástrofe, sobre a expansão de um vírus letal e misterioso, causando milhares de mortes, pânico e mobilização das autoridades nos quatro cantos do planeta. Porque o novo trabalho não acrescenta nada à sua carreira, exceto alguns milhões de dólares na conta, façanha que pode ser atribuída à grande esquadra de astros a bordo.

O elenco consagrado e internacional é, aliás, o maior dividendo. Estão na tela o mesmo Matt Damon que já estrelou vários filmes de Soderbergh, incluído o recente O Desinformante! (2009), Laurence Fishburne (Matrix), Jude Law, Gwyneth Paltrow, a inglesa Kate Winslet e a francesa Marion Cotillard.

Gwyneth interpreta a executiva Beth Emhoff, que se sente mal no aeroporto de Chicago e se torna uma das primeiras vítimas do vírus, que surge também na China – onde a executiva esteve recentemente. A morte de Beth coloca em quarentena sua família, incluindo o marido, Mitch (Matt Damon), e os filhos, em Minneapolis.
Por algum motivo, Mitch é imune ao vírus, o que vai lhe dar algum destaque na história. Ele é, aliás, um dos poucos personagens a ganhar um pouco mais de tempo na tela, além dos médicos e autoridades que tentam combater o vírus.

O fato de que sejam estes personagens, e não propriamente as vítimas e suas famílias, que ocupem muito da história, não raro com providências burocráticas, é, aliás, um dos problemas do filme para gerar empatia com o público.

Em todo caso, desperta simpatia a especialista médica Erin Mears (Kate Winslet), que viaja aos locais de incidência, a mando de seu chefe, Ellis Cheever (Laurence Fishburne), sugerindo medidas de contenção. A carismática Marion Cotillard (vencedora do Oscar de melhor atriz por Piaf) não tem a mesma sorte, sendo pouco vista como Leonora Orantes, uma especialista da Organização Mundial de Saúde.

Embora a história – surgida do argumento e roteiro do produtor Scott Z. Burns – já tenha claramente um supervilão neste vírus rápido e mortal, também conta com um personagem dúbio na figura do jornalista e blogueiro Alan Krumwiede (Jude Law). Enfeiado por uma prótese dentária e assumindo um sotaque estranho, ele ganha notoriedade com teorias da conspiração, ganhando milhões de leitores em seu blog, em que sugere medidas como a medicina natural para controlar a epidemia.

Sem dúvida, a qualidade técnica da produção é notável. Soderbergh procura o realismo nas imagens, não recuando diante de algumas imagens capazes de revolver alguns estômagos – inclusive uma autópsia, mostrada com riqueza de detalhes. Telas de computadores, gráficos, tabelas, imagens de deslocamento de tropas militares, contribuem para a criação de um clima de neurose coletiva.

Apesar disso, o filme soa estranhamente frio. Uma das razões é a falta de heróis por quem torcer – até um dos médicos que mobilizava a simpatia morre no meio do caminho. Matt Damon, que cumpre o papel na primeira metade do filme, some um bom tempo e só volta no final. Soderbergh preferiu manter o protagonismo da história no medo e no caos e nem assim revela convicção suficiente. Parece ter dirigido no piloto automático.

Neusa Barbosa

FICHA TÉCNICA

Diretor: Steven Soderbergh
Elenco: Matt Damon, Marion Cotillard, Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Jude Law, Laurence Fishburne, John Hawkes, Tien You Chui, Josie Ho, Daria Strokous
Produção: Gregory Jacobs, Michael Shamberg, Stacey Sher, Steven Soderbergh
Roteiro: Scott Z. Burns
Fotografia: Steven Soderbergh
Trilha Sonora: Cliff Martinez
Duração: 106 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Ação
Cor: Colorido
Distribuidora: Warner Bros.
Estúdio: Participant Media / Double Feature Films / Warner Bros. Pictures / Imagenation Abu Dhabi FZ / Regency Enterprises
Classificação: 12 anos


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