13 de nov. de 2011

Mix Brasil 2011 - Meu Último Round e Ausente

Denso e instigante, "Ausente" transforma uma relação entre professor e aluno num constante jogo de suspense e tensão sobre o que irá acontecer. A história é envolvente, os atores estão muito bem e o final é arrebatador.

Minha Cotação: * * * *


Crítica: «Ausente» 
por André Gonçalves


http://www.c7nema.net/index.php?option=com_content&view=article&id=6736%3Aqueer-lisboa-2011-ausente-por-andre-goncalves

Mais uma edição do Queer, mais uma pedrada no charco a cargo de Marco Berger, que tinha já incendiado paixões e ódios no ano passado com o espantoso “Plan B”.

“Ausente” felizmente não é menos arrebatador. Da vingança infantil que se transforma em amor, o cineasta explora agora uma obsessão adolescente de um aluno pelo seu professor de educação física (Javier de Pietro e Carlos Echevarría, respectivamente, ambos magníficos), levada a novos limites, também com alguns requintes de malvadez – e culpabilidades humanas – pelo meio e pelo final. Contar mais é crime. Podemos dizer que Berger tem um olho para filmar corpos humanos e as suas imperfeições como poucos actualmente, e também para congeminar retratos de pessoas reais, saídas de uma Argentina sem modelos pré-formatados. Tal como acontecia em “Plan B”, o ritmo é lento, mas sempre insinuante, convidando sempre o espectador a acompanhar o que se vai passar, para depois lhe puxar o tapete, qual mágico a tirar coelhos da cartola. No final, uma coisa é certa: cada espectador sai com um filme diferente na cabeça, tal é a habilidade em desafiar percepções e incluir imensas ambiguidades em actos cruciais das personagens.

O realizador argentino é definitivamente uma das vozes mais interessantes que saíu do “cinema queer” dos últimos anos, uma que escapou efectivamente a rótulos “queer” - e ainda bem. De tal modo que se poderia perfeitamente imaginar um dos seus filmes num qualquer outro Festival, a ser visto por pessoas de qualquer credo, orientação sexual, identidade de género e “status” social. Estando contudo num Festival Queer, onde as expectativas são ligeiramente mais obtusas, o filme contou com uma recepção morna na sua primeira sessão, com muitas expectativas do público a saírem goradas. Para mim, “Ausente” arrisca-se a ser o filme mais memorável do certame deste ano, um filme a que atribuiria - sem hesitar - um prémio do palmarés. A ver vamos como correm os restantes 7 dias.




AUSENTE - ABSENT (2011)

 Director: Marco Berger
Producer: Mariano Contreras
Editor: Marco Berber
Screenwriter: Marco Berger
Cinematographer: Tomas Perez Silva
Music: Pedro Irusta
Principal Cast: Carlos Echevarria, Javier De Pietro, Antonella Costa 
Filmography: Plan B (2009)


Vencedor do Teddy em Berlim, 'Ausente', de Marco Berger, retrata uma relação obsessiva entre aluno e professor

http://oglobo.globo.com/cultura/vencedor-do-teddy-em-berlim-ausente-de-marco-berger-retrata-uma-relacao-obsessiva-entre-aluno-professor-2865583

RIO - Vale mentir, vale forçar uma barra, vale olhar pela fresta da porta. Muitos artifícios são possíveis quando se trata de adolescentes lidando com o desejo sexual: até mesmo mentir para o professor de natação, só para poder passar a noite em sua casa e imaginar uma situação um pouquinho mais avançada do que simplesmente "olhar". Como mostra o longa-metragem argentino "Ausente", de Marco Berger, só não vale mesmo ter preconceito. A produção, que recebeu este ano o prêmio Teddy de melhor longa-metragem com temática homossexual no Festival de Berlim, tem sessão nesta quarta-feira no Estação Vivo Gávea, às 17h40m, na mostra Mundo Gay do Festival do Rio.


O projeto inicial de Berger era fazer um filme sobre a relação passional entre dois primos, mas a ideia foi substituída por um viés mais polêmico: o desejo entre o aluno e o mestre. Em "Ausente", Martín (Javier de Pietro) é um rapaz de 16 anos que se sente atraído de maneira obsessiva pelo professor de educação física de sua escola, Sebastían (Carlos Echevarría).

- É um tema tabu, que as pessoas não gostam de abordar. Há muito desejo em torno dos adolescentes, não dá para negar isso. E a figura do professor é emblemática para esse desejo - diz o diretor, no Rio para prestigiar o festival.

O preconceito da sociedade está presente em "Ausente" nos olhares de vizinhos e porteiros ao verem Sebastían próximo a Martín. São cenas aparentemente com pouco apelo sexual, mas que ganham uma atmosfera de tensão graças a alguns recursos típicos de thrillers, como movimentos lentos de câmera e uma trilha sonora de mistério, utilizados pelo diretor.





- A primeira parte do filme serve para passar uma ideia de que há um risco maior do que realmente há. Na verdade, eles não fazem muito, mas tentei passar a impressão de que havia uma ousadia grande em tudo aquilo, quando na verdade não havia nada. Algumas reações dos vizinhos de Sebastían servem para tornar essa tensão ainda mais forte. E é, de certa forma, como uma parte do público reage a cenas assim - diz.

Berger já havia lidado com a temática homossexual em seu primeiro longa-metragem, a comédia "Plano B", de 2009. Nele, um rapaz que leva um fora da namorada se passa por amigo do novo namorado da moça, só para tentar acabar com o relacionamento. Aí, como a matemática da amizade é a química dos amantes, não fica muito difícil imaginar que rumo toma a relação entre os novos "amigos".

- Por incrível que pareça, lidar com a comédia de "Plano B" foi mais difícil do que lidar com o drama de "Ausente". Na comédia, é necessário abordar um problema com leveza, mas sem perder o mote de que se trata de um assunto sério. Há um limite de preconceito que não pode ser ultrapassado nas piadas - explica Berger.

Na Argentina, "Ausente" já está em cartaz há três semanas, incentivado pelo boca a boca e pelas críticas positivas. O prêmio em Berlim também ajudou a abrir portas para Berger, mas de certa forma tem tachado o longa pela temática gay. O diretor, porém, prefere rejeitar o rótulo.

- O filme não é voltado apenas para um tipo de público. Ainda chegaremos ao momento em que não será necessário mais falar de nichos, onde tudo será unificado - afirma ele. - Mas, se você pensar bem, houve muitos avanços. As bandeiras do mundo gay só foram levantadas há dez, 20, 30 anos. Algumas etapas precisam ser rompidas, e o cinema pode ajudar a diminuir o preconceito.




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Um filme triste até na fotografia, mas com final previsível. Apesar disso, o filme tem algumas cenas interessantes, é bem dirigido e interpretado.

Minha Cotação: * * *


Crítica: «Mi Ultimo Round»
por André Gonçalves

http://www.c7nema.net/index.php?option=com_content&view=article&id=6767:queer-lisboa-2011-mi-ultimo-round-por-andre-goncalves&catid=3:outros-filmes&Itemid=31

Não será muito difícil adivinhar o final de “Mi Ultimo Round”. Tentando ainda assim evitar ao máximo o “spoiler” fácil, pode-se dizer que estamos perante um filme em tons acinzentados. Mais uma vez, nota-se a preocupação em mostrar uma visão mais socio-realista, sobre uma relação de um casal a fugir a estereotipos: ele pugilista, e ele cozinheiro em vias de arranjar novo emprego. O pugilista apresenta uma condição clínica que o impede de combater – mas obviamente, que não se deixa levar pelo médico, e volta ao ringue. Dizer mais é redundante.

Mais uma vez temos um filme vindo do mercado fortíssimo da América Latina – desta vez o Chile. Só que no caso de “Mi Ultimo Round”, o ritmo lento ajuda a adivinhar todo o suposto clímax do filme, e que portanto rouba todo o poder emocional que o filme poderia ter nessa altura. Muito longe do murro no estômago de um “Brokeback Mountain” (aqueles acordes da banda sonora são demasiado próximos a Santaolalla) ou um “Million Dollar Baby”, muito mais próximo de um filme que não sabe jogar bem com as cartas do baralho que tem. Ainda assim, de registar duas cenas que vão contra esta previsibilidade global: a descoberta de uma pseudo-traição, e uma posterior discussão “surda”. Tivesse o filme tomado opções mais inventivas, e teríamos aí sim um “knockout”.

Artigo retirado do site www.c7nema.net


MY LAST ROUND (MI ULTIMO ROUND) – 2011

Synopsis: Hugo becomes captivated with Octavio, a middle-aged local boxing champion, but their relationship is tested when Hugo finds a new job in the city.

Cast: Tamara Acosta, Luis Dubó, Cristian Farias, Roberto Farías, Manuela Martelli, Ariel Mateluna, Héctor Morales, Armando Navarrete, Yamila Reyna, Gonzalo Robles

Writer/Director: Julio Jorquera Arriagada
Producer(s): Francisco Rojas
Editor: Julio Jorquera, Danielle Fillios
Director of Photography: Sergio Armstrong

87 minutes
Argentina, Chile





2 comentários:

  1. Hoje em dia, é muito mais comum o cinema latino ou europeu abordar temas considerados tabus. Se observarmos, esse sempre foi um foco usado pelo cinema europeu e continua até hoje. O que é legal, é que cada vez mais é tratado com delicadeza e uma versão mais pessoal.

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  2. Também tenho visto muitos filmes latinos com essa temática. Brasileiros, nem tanto. Hoje assisti "Os 3", mas que passa muito de leve nessa questão. Parece que há um pouco de pudor dos artistas brasileiros em relação a esse assunto. Tenho que admitir que, nesse aspecto, os autores de novela dão um banho nos autores de cinema brasileiros.

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