21 de jun. de 2012

Deus da Carnificina


CRÍTICA
Polanski retorna entre quatro paredes em teatro bem filmado

Embora assumidamente teatral, "Deus da Carnificina" tem virtudes de cinema
por Fábio Pastorello

As adaptações de peças de teatro para o cinema sempre procuram disfarçar aspectos característicos do teatro que no cinema não funcionam bem, como a limitação em um único espaço físico, o excesso de diálogos ou a interpretação não naturalista dos atores. Em "Deus da Carnificina"(Carnage, 2011), o diretor Roman Polanski parece não ter se preocupado com essas características teatrais, e mesmo assim conseguiu fazer um bom cinema.



O que poderia soar cansativo, como a trama se passar praticamente toda na sala de um apartamento e os diálogos verborrágicos de seus personagens, não incomoda no filme, e Polanski consegue conduzir bem a história, com crescente envolvimento por parte do público. A experiência do diretor com outras adaptações de peças teatrais ("A Morte e a Donzela") ou em que o espaço delimitava a ação (como na trilogia dos apartamentos formada por "Repulsa ao Sexo", "O Bebê de Rosemary" e "O Inquilino") provavelmente colaborou para que ele conseguisse esse resultado positivo.

O efeito, no entanto, só funciona até certo momento, não por demérito do Polanski diretor, mas do Polanski roteirista, em parceria com a autora da peça teatral que deu origem ao filme, Yasmina Reza. O filme perde um pouco de fôlego em seu terço final.

A história é sobre dois casais que resolvem se encontrar para resolver o problema dos respectivos filhos, que tiveram uma briga. O início da conversa, conciliatório, aos poucos cede espaço para os conflitos entre os personagens. A premissa é bastante interessante, uma vez que o filme mostra, em duas fases bastante distintas por um incidente simbólico, como as relações cordiais são frágeis diante das diferenças de sexo, profissão, crenças ideológicas ou comportamento.

Assim como os personagens são levados constantemente a situações de conflitos, o roteiro conduz frequentemente esses personagens ao limite nem sempre de forma crível ou natural. Os personagens são tipos, próximos de arquétipos, construídos de forma artificial e previsível para comprovar a teoria defendida pelo filme: um homem que fala constantemente ao celular e não dá importância para a família, uma mulher controlada que a partir de determinado momento resolve vomitar (metafórica e literalmente), o homem submisso às mulheres (a mãe e a esposa) ou a intelectual correta cheia de discursos vazios. As situações soam forçadas, como as saídas e retornos do casal ao apartamento (em determinado momento, já na porta de saída, eles resolvem aceitar mais um café, por exemplo, mesmo nitidamente querendo estar longe daquele lugar) ou a troca de ofensas entre os casais diante de outro casal que acabaram de conhecer.

O filme tem entre seus méritos, de qualquer forma, justamente o fato de ser assumidamente uma adaptação teatral, mas também com seus valores cinematográficos louváveis, como a utilização criativa de diversos enquadramentos dentro do espaço exíguo que retrata e da escalação e direção de atores, que defendem seus estereótipos com talento. O resultado é muito mais instigante do que criativo. O único senão fica mesmo para o roteiro, que não imprime uma credibilidade que no teatro talvez não incomodasse tanto.

COTAÇÃO DO JANELA INDISCRETA: * * * 1/2


FICHA TÉCNICA
Diretor: Roman Polanski
Elenco: Kate Winslet, Jodie Foster, John C. Reilly, Christoph Waltz, Elvis Polanski, Eliot Berger, Joseph Rezwin, Nathan Rippy, Tanya Lopert, Julie Adams
Produção: Saïd Ben Saïd
Roteiro: Roman Polanski, Yasmina Reza
Fotografia: Pawel Edelman
Trilha Sonora: Alberto Iglesias
Duração: 80 min.
Ano: 2011
País: França/ Alemanha/ Polônia/ Espanha
Gênero: Comédia Dramática
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: SBS Productions / SPI Poland
Classificação: 12 anos


2 comentários:

  1. Não vou comentar, porque minhas opiniões podem ser agressivas e por vezes eu não entendo o texto do crítico, principalmente quando não concordo. Então, segue uma crítica sobre o filme que eu achei muito boa: http://omelete.uol.com.br/cinema/deus-da-carnificina-critica/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Legal a crítica do Omelete. Concordo que Polanski perde a mão um pouco no final.

      Excluir