24 de jun. de 2011

Potiche: Esposa Troféu


Potiche é uma deliciosa comédia francesa. Por vezes, parece que estamos assistindo uma novela: os personagens são tipos, quase caricaturais, disputam a presidência de uma empresa ou um cargo político em uma pequena cidade. Um crítico da Folha até achou, em tom pejorativo, que as ações se encaixariam muito bem no programa "Sai de Baixo". Não importa. O filme é divertido e satírico, e conta com Catherine Deneuve e Gerard Depardieu em personagens muito carismáticos.

Uma pena que a projeção no Frei Caneca estava péssima, quase estragou a diversão. O filme começou sendo projetado para fora da tela, excluindo partes da cabeça dos atores e da legenda. Depois de uns 10 minutos sem nenhuma providência e várias reclamações, finalmente os projecionistas começaram a tentar consertar o filme, mas ora a projeção ficava torta, ora ainda permanecia fora de quadro. Enfim, eles consertaram e voltaram ao início de filme. Ao menos tomaram essa providência, já que não tinha conseguido prestar atenção nenhuma nesses 10 primeiros minutos de filme. Uma lástima, numa das salas que costumava ter boa qualidade.

Minha Cotação: * * * *





POTICHE: ESPOSA TROFÉU
Heitor Augusto

1977. Em Potiche – Esposa Troféu, a transformação da força da mulher na sociedade é até divertida, praticamente apolítica. A luta de classes, também, é diluída pelo clima nostálgico de lindas canções-chiclete setentistas. Mas, é só olhar com atenção, pois tudo está lá: basta apenas driblar as aparências.

François Ozon é um herdeiro da liberdade musical de Jacques Demy. Neste, personagens transformam em canções os diálogos que exprimem uma falsa alegria. No fundo, a melancolia, comentário irônico, quiçá, da felicidade dos musicais hollywoodianos. Em Ozon, especialmente em Potiche – Esposa Troféu, a relação com a canção aproxima os dois realizadores, mas neste filme a felicidade de Catherine Deneuve é verdadeira, bem diferente de Anouk Aimeé emLola – A Flor Proibida.

Esta felicidade vem de um insólito acontecimento. Esposa sem vontade própria e mais se parecendo com um objeto decorativo ao lado do industrial Robert (Fabrice Luchini), Suzanne (Deneuve) toma as rédeas da empresa quando o marido é sequestrado pelos empregados ultraexplorados.

Mesmo partindo de um tema palpável – luta de classes e papel da mulher –, Ozon vai para um registro longe do realismo. Daí vem o frescor e a diversão que é assistir ao filme: abdica-se de um cinema político e se apresenta quase um conto de fadas musical com um feminismo pastiche. Que não se entenda isso como uma defesa de que o cinema político é démodé, apenas reconheço a saudável diferença do olhar de Ozon.

No frigir dos ovos, temos um filme que é realizado pelo filtro do mundo de Suzanne, uma burguesa alienada que, de repente, cai na vida real.

Filme antigo

Potiche – Esposa Troféu é uma grande brincadeira que homenageia um tempo passado com a força da Direção de Arte, Iluminação, Figurino e Trilha Sonora. Esta merece um comentário à parte.

Tem-se neste longa a fina nata do que a França produziu de música romântica no final da década de 60 a meados de 70. Na sequência mais afetiva do filme, Catherine Deneuve, a ex-esposa troféu do título, e Gerard Depardieu, um comunista de longa data que tem uma relação mal resolvida com ela, dançam em uma discoteca ao som de Viens Faire Un Tour Sous La Pluie, canção ultrarromântica do grupo Il Etait Une Fois.

O tempo para graças à esperteza de Ozon. Não vemos apenas os personagens Suzanne e Maurice curtindo um momento de alegria, mas dois ícones do cinema francês voltando no tempo e sentindo-se novamente com 30 anos. Jovens com toda uma vida pela frente, felizes por cantarem “Vamos dar uma volta na chuva, sim/ Os pássaros virão também, sim/ Vamos fazer um tour em Paris/ Na chuva”. Pena que dura pouco.

No rol de canções que remetem aos anos 70 ainda estão Emmène-moi Danser Ce Soir, de Michele Torr, que Catherine Deneuve dubla na cena da cozinha, Sunny, de Boney M. (que ganhou uma infame versão brasileira de Léo Jaime), e, como cereja do bolo, More Than a Woman, dos Bee Gees.

Personagens

É verdade também que os personagens masculinos de Potiche – Esposa Troféu são tipos: o empresário sem escrúpulos (Fabrice Luchini), o comunista de coração mole (Depardieu), o filho confuso (Jérémie Renier), o fugaz amante (Sergi Lopez).

Como é comum no cinema de Ozon, a figura feminina é melhor desenvolvida. Basta lembrar da onipresença delas em 8 Mulheres ou do carinho maior com a esposa de Ricky. Desta vez, não só a protagonista dá o tom do filme, mas sua filha ultraconservadora (Judith Godrèche) e a secretária/amante (Karin Viard, em atuação sensacional) carregam os principais dilemas do enredo. Afinal, trata-se de um filme que coloca a mulher à frente.

Potiche – Esposa Troféu é uma homenagem afetiva à mulher, mas que evita a seriedade dos conflitos. Uma divertida brincadeira cinematográfica e musical, capaz de levantar a autoestima de quem estiver por baixo. É como ilustra a canção final, C’est Beau La Vie, interpretada por Deneuve: “O vento nos cabelos loiros/ O sol no horizonte/ Algumas palavras de uma canção/ Pois é bela, é bela a vida”

FICHA TÉCNICA

Diretor: François Ozon
Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard, Judith Godrèche, Jérémie Renier, Sergi LópezProdução: Eric Altmeyer, Nicolas Altmeyer
Roteiro: François Ozon
Trilha Sonora: Philippe Rombi
Duração: 103 min.
Ano: 2010
País: França
Gênero: Comédia
Cor: Colorido
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Mandarin Films
Classificação: 12 anos


PRÊMIOS
- Indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza em 2010.

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