9 de jun. de 2011

Quem viaja comigo tem que... Parte 2



Continuando a série relacionada a viagens, que fala um pouco das coisas inusitadas que as pobres vítimas que viajam comigo têm que passar, aqui vai mais uma:


2 - Planejar ou não planejar, eis a questão




Planejar uma viagem pode ser tão bom quanto realizá-la
"O único viajante com verdadeira alma que conheci era um garoto de escritório que havia numa outra casa, onde em tempos fui empregado. Este rapazito colecionava folhetos de propaganda de cidades, países e companhias de transportes; tinha mapas — uns arrancados de periódicos, outros que pedia aqui e ali —; tinha, recortadas de jornais e revistas, ilustrações de paisagens, gravuras de costumes exóticos, retratos de barcos e navios. Ia às agências de turismo, em nome de um escritório hipotético, ou talvez em nome de qualquer  escritório existente, possivelmente o próprio onde estava, e pedia folhetos sobre viagens para a Itália, folhetos de viagens para a índia, folhetos dando as ligações entre Portugal e a Austrália." Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego.


A alma viaja...
Em seu Livro do Desassossego, Fernando Pessoa diferencia o que é viajar com o corpo e com a alma. O autor até apregoa que a experiência de viajar com a alma é mais verdadeira e memorável do que com o corpo. Não chego a esse extremo, para mim são ambas muito valiosas. 


Por isso, enquanto planejo uma viagem, viajo com a alma para os lugares que irei em breve com o corpo. Fernando Pessoa ainda afirma "que as verdadeiras paisagens são as que nós mesmos criamos". Para mim, planejar uma viagem é tão prazeroso quando realizar a viagem propriamente dita. Pesquisar relatos de outros viajantes; conhecer os lugares que irei visitar através de guias, fotos, experiências de outros; verificar quais são os trajetos que irei percorrer e como irei realizá-los; escolher entre vários destinos em virtude da pouca disponibilidade de tempo; tudo isso é uma parte muito importante do viajar. 


Quais lugares realmente vão tocar meu coração?
É certo que tudo começou pelo meu desejo de segurança, de planejar tudo para diminuir minha ansiedade ao viajar. Mas hoje é muito mais do que isso. Tudo bem, já viajei em pacotes tipo da CVC, já até fiz parte de grupos de excursão e a experiência tende a ser lotérica. A probabilidade de que os gostos do guia de turismo sejam compatíveis com os meus, que ele irá me levar aos lugares que eu realmente me interessaria, da maneira que eu gostaria, são de uma em um milhão. 


Recentemente, em planejamento de uma viagem que começou com mais de um ano de antecedência (!), quase briguei com um amigo por conta de decisões em relação do que iríamos fazer nessa viagem. Depois controlei meus impulsos psicóticos e resolvi pedir desculpas. Afinal, se planejar uma viagem é um deleite, planejá-la em companhia de um amigo há de ser muito melhor. 


E que nossas almas viajem, e que nossos corpos viajem com elas depois. E por vezes as paisagens que nossas almas traçaram são melhores que nossos olhos podem ver, será uma decepção? Outras vezes, o que nosso corpo sente não tem nada a ver com o que nossa alma desenhou, é tudo novo e muito melhor. Seja qual for o resultado alma x corpo, no mínimo as experiências de viagem serão duplicadas.  Nada melhor do que fazer duas viagens pelo preço de uma. 


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