15 junho 2011
Retrospectiva Alfred Hitchcock
O CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em São Paulo e no Rio de Janeiro, fará uma retrospectiva sobre a obra do cineasta Alfred Hitchcock.
Além de três curtas e 53 filmes, como Janela Indiscreta (1954), Um Corpo que Cai (1958), Intriga Internacional (1959), Psicose (1960) e Os Pássaros (1963), serão apresentados 127 episódios feitos para a televisão da série Suspense (Alfred Hitchcock Presents).
No Rio a mostra começa no dia 1° de junho e vai até 14 de julho e em São Paulo de 15 de junho a 24 de julho.
Em São Paulo, um recorte de 20 filmes da mostra serão exibidos durante dez dias no Cinesesc de 7 a 17 de julho.
O evento também traz uma sessão com narração e música ao vivo de O Inquilino (The Lodger: A Story of the London Fog), de 1926, um dos primeiros longas de Hitchcock e seu primeiro sucesso.
Você também poderá ver raridades como Aventure Malgache e Bon Voyage (1944), que Hithcock fez para a França na Segunda Guerra Mundial. Versões diferentes de um mesmo filme - Chantagem e Confissão(Blackmail, 1929), mudo e falado, além de um curta-metragem do teste de som para o longa, o primeiro filme falado da Inglaterra. Programa duplo com a versão inglesa e a versão alemã de Assassinato (Murder, 1930), que foi filmado simultaneamente em inglês e alemão, no mesmo set, trocando apenas os atores. Da versão alemã, chamada Mary, existe apenas uma única cópia no mundo. O Homem que Sabia Demais (The man who knew too much) na versão original de 1934, que Hitchcock fez na Inglaterra, e o remake americano de 1956, com Doris Day e James Stewart.
Relembrando o mestre do suspense
Suspense: seu nome era Alfred Hitchcock. E ainda continua a ser. Se ele não foi o melhor, sem dúvida Alfred Hitchcock é o cineasta mais famoso do mundo. Todo mundo o conhece, até mesmo porque era um mestre do marketing, sabia se vender e a seus filmes como ninguém. Desde o apelido - Mestre do Suspense, que ao que tudo indica foi alcunhado por ele mesmo - até suas aparições em pontinhas em todos os filmes (o que virou marca registrada) até depois, nos anos 50 em diante, como apresentador do seu famoso seriado de TV, Alfred Hitchcock Presents (no Brasil, teve até sua revista de contos, levando apenas o nome "suspense") .
Se não é o melhor cineasta do mundo, certamente está na lista curta dos dez mais ao lado de Fellini, Kurosawa, Kubrick, Welles e uns poucos mais. Também como outros deles (Kubrick e Welles, por exemplo) está ainda na seleta lista dos que nunca ganharam um Oscar competitivo da Academia.
Indicado cinco vezes (por Psicose, Janela Indiscreta, Quando Fala o Coração, Um Barco e Nove Destinos, Suspeita, mas não pelo filme que ganhou o Oscar de melhor filme do ano, Rebecca, a Mulher Inesquecível.Só levaria o Prêmio Especial Irving G. Thalberg para produtores em 68), certamente é o mais popular e um dos poucos que tem sua obra sempre revisitada e analisada. Até porque teve a inteligência de se tornar dono de seus principais filmes (que depois de certo período sob distribuição da Paramount e Warner, retornaram para sua propriedade e hoje estão licenciados para a Universal de quem Hitchcock foi um dos principais acionistas.
Esperto também na vida real, soube criar um mito único e pelo jeito imperecível. Porque seus filmes, como se não bastasse tudo, ainda têm o mérito de resistirem lindamente à passagem do tempo.
Apesar de constantemente reavaliados e imitados, tanto pelo público quanto pela crítica (ao menos desde que o então crítico, o francês François Truffaut, lhe deu seu aval com um livro de entrevistas ). Mais curioso é descobrir acompanhando os documentários sobre o cineasta, que na vida real ele era um autêntico gourmet (isso fica claro em quase todos os seus filmes com referências à comida), que preparava com todo cuidado a pré-filmagem, desenhando todos os planos, pretendia fazer de tal forma que chegava a se entediar quando chegava a rodar (ele nunca olhava pelo visor da câmera, apenas ouvia o que os atores diziam, talvez por isso tantas vezes os chamava de “gado” prontos para serem conduzidos) e que, surpreendam-se, era um homem de família, intensamente apaixonado por sua única mulher, musa e montadora Alma (sua morte prematura precipitou sua doença e eventual morte) e pela única filha, Patricia (que apesar de feiosa, colocou em dois de seus filmes). Ou seja, o velho cínico no fundo era um sentimental, de coração mole. Sem qualquer suspense em sua vida particular. Susto só nos outros.
O melhor de Hitchcock
Se puder assistir todos será uma maravilha, não vai se arrepender. Seus filmes são sempre aulas de cinema. Mas para ajudar vocês republico esta lista dos melhores filmes de Alfred Hitchcock (1899- 1980).
Também teve a inteligência de se tornar dono de seus principais filmes (que depois de certo período sob distribuição da Paramount e Warner, retornaram para sua propriedade e hoje estão licenciados para a Universal de quem Hitchcock foi um dos principais acionistas).
Praticamente toda a carreira dele está disponível em DVD no Brasil (a maior parte pela Universal e com ótimos extras com making of especialmente produzido pela mesma pessoa, Laurent Bouzereau, o mestre do gênero).
Por tudo isso, é muito difícil escolher os dez melhores filmes dele (o iMDb lista 67 obras, incluindo documentários que fez durante a guerra, mas não o que ele fez para a TV). E mais ainda os piores. Dos famosos, O Homem que Sabia Demais, a versão com Doris Day é a mais fraca. Fica visível o uso de dublês nas gravações feitas no Marrocos e as horríveis cenas com fundo de projeção (back projection), extremamente falsas (aliás, como a peruca de James Stewart, isso quando ele não usa chapéu para escondê-las). Em compensação, tem um notável clímax na sala de concerto onde faz uma aparição como o maestro, o melhor compositor das trilhas de Hitchcock, Bernard Hermann.
Os dez mais de Hitchcock (sem ordem classificatória, apenas cronológica)
Frenesi (Frenzy, 1972 )
Elenco: Jon Finch, Billie Whitelaw, Alec McCowen, Barry Foster, Anna Massey.
Um serial killer, chamado "assassino da gravata", confunde a polícia de Londres. Mas enquanto ele faz novas vítimas, eles perseguem o suspeito errado. Em seu penúltimo filme e seu primeiro filme na sua Inglaterra (onde não filmava desde Pavor nos Bastidores/Stage Fright, de 1950), Hitch fez o melhor filme de sua fase final. Até mesmo o trailer era divertido (mostrando uma cópia do corpo dele boiando no Rio Tâmisa). Também cometeu certos atrevimentos em nudez (a cena do cadáver no saco de batatas é sempre cortada nas cópias da TV aberta por ser considerada muito forte).
Novamente em forma, ele tem momentos de brilhantismo (como quando acompanha um assassinato num escritório e depois a câmera se retira para a rua onde ninguém ouve os gritos, para isso na época era preciso desmontar o cenário já que não havia outros recursos para o recuo da câmera). Errou apenas na mania de não trabalhar com astros, por economia, chamando como protagonista um inglês que havia feitoMacbeth, de Polanski, mas não tinha carisma para virar astro (Finch).
Os coadjuvantes porém são melhores (e o filme gasta muito tempo com um policial que tem o hobby de ser gourmet, como o próprio diretor). E o filme é um perfeito exemplo de exercício de suspense (o público sabe quem é o criminoso e o inocente, mas não os personagens, assim torce mais). O roteiro é do escritor Anthony Shaffer (Sleuth) baseado no livroGoodbye Picadilly, Farewell Leicester Square, de Arthur La Bern. A ponta de Hitchcock é logo no começo ao lado do Rio Tâmisa, assistindo a reunião/discurso que está acontecendo.
Os Pássaros (The Birds, 1963)
Elenco: Tippi Hedren, Rod Taylor, Jessica Tandy, Suzanne Pleshette, Veronica Cartwright.
Melanie Daniels chega a Bodega Bay, na região de São Francisco, paquerada por um solteirão Mitch. É inexplicavelmente atacada por uma gaivota, que na verdade é o começo de um ataque de diversos pássaros contra os humanos, de forma que eles todos ficam aprisionados numa casa à mercê deles.
Fez grande sucesso, teve continuação (para a TV) e inúmeras imitações (depois dele todos os bichos passaram a atacar os humanos pelas mais diversas razões).
O brilhante do roteiro de Evan Hunter, extraído do livro de Daphne Du Maurier (autora de Rebecca, que Hitchcock também filmou), é que não dá explicações para a revolta dos pássaros (deixa em aberto para a especulação por parte do espectador). Como foi feito muitos anos antes da existência dos efeitos digitais, os ataques dos animais foram feitos com enorme dificuldade e resultado espetacular .
É extremamente eficiente, embora só tenha sido realmente virado cult no Brasil quando passou na televisão (e todos ficaram achando que haviam cortado o final aberto).
Como Hitch gostava de loiras, lançou aqui uma modelo já não muito jovem, mas que lembrava Grace Kelly, a fraca Tippi (o nome dela aparece entre aspas originalmente). Já com 28 anos, inexperiente, nunca teve o carisma para uma carreira maior. A filha Melanie Griffith acabou sendo mais bem sucedida. Também tem presenças marcantes na fita a morena Pleshette e Jessica Tandy (que anos depois ganharia o Oscar de Atriz porConduzindo Miss Daisy).
Intriga Internacional (North by Northwest, 1959).
Elenco: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, Jessie Royce Landis, Martin Landau, Leo G. Carroll.
Um publicitário é confundido com um agente secreto e acaba sendo perseguido, acusado de assassinato. Depois de se envolver com uma loira fatal e escapar da morte por várias vezes, chega perto dos bandidos.
Um clássico do gênero que não envelheceu graças às cenas memoráveis (a famosa perseguição nos rostos do Monte Rushmore, a perseguição no campo de milho), a exemplar trilha musical de Bernard Hermann, o diálogo sugestivo e inteligente e naturalmente o ótimo elenco.
Foi indicado aos Oscars de montagem, roteiro e direção de arte. James Stewart queria fazer o filme mas Hithcock preferia Cary Grant (1904-86) e por isso esperou ele estar preso em outra filmagem para começar a rodar e não ofender o velho amigo.
A história do sujeito perseguido por engano com final inesperado foi sugerido por um jornalista e inspirado no caso real que rendeu o filme O Homem que Nunca Existiu.
Hithcock não conseguiu permissão de rodar nem na Nações Unidas nem no Monte Rushmore, que tiveram que ser falseados. O título original vem de frase de Shakespeare em Hamlet: "I am but mad North-Northwest", onde tenta convencer as pessoas de sua sanidade. Jessie Royce, que faz a mãe de Grant, tinha apenas sete anos a mais que ele.
O filme está repleto de insinuações sexuais (como o trem entrando em túnel) e Eva Marie faz o possível para lembrar Grace Kelly.
Hitchcock faz sua aparição habitual logo nos letreiros, quando chega tarde para pegar um ônibus, que fecha a porta em sua cara.
Um Corpo que Cai (Vertigo, 58)
Elenco: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore, Henry Jones.
Um detetive de São Francisco sofre de acrofobia, medo de alturas, por causa de um incidente em sua carreira. Contratado para seguir uma esposa misteriosa e suicida, acaba se envolvendo com ela. Mas a mulher morre. Tempos depois, ele encontra uma garota parecida com ela, a quem tenta desesperadamente transformar na falecida.
O mais admirado (pela crítica) de todos os filmes de Hitchcock, talvez porque durante anos ficou inacessível ao público (os direitos eram dele) e também por ter sido o primeiro restaurado. Inspirado em livro, D’Entre les Morts, de Pierre Boileau e Thomas Narcejac, os mesmos autores de As Diabólicas, é mais de clima (é fundamental a trilha musical de Bernard Herrmann) do que propriamente crime e suspense (o final sempre me pareceu por demais abrupto).
Embora a maquiagem de Kim tenha envelhecido mal, o resto do filme ainda impressiona assim como o uso de locações em São Francisco (onde existe até hoje um tour para visitar os locais onde foi feito o filme).
O Homem Errado (The Wrong Man, 1956)
Elenco: Henry Fonda, Vera Miles, Anthony Quayle, Harold J. Stone, Nehemiah Persoff, Tuesday Weld.
Músico injustamente acusado de crime é preso e depende da ajuda da esposa para provar sua inocência. Mas a pressão é demais para ela.
O tema do homem acusado injustamente por crime que não cometeu era constante na filmografia de Hitchcock, em inúmeras variações. Mas em nenhum outro filme ele o abordou de forma tão direta e sombria como neste.
Mostrando um caso real de um músico que tem sua vida estragada quando é identificado por testemunha, por engano, como um assaltante. E não tem como provar sua inocência. O diretor era muito crítico em relação a ele, considerando-o um semi-fracasso. E de fato é dos filmes mais frios e depressivos dele, sufocante, lento e sem a ironia característica de Hitchcock, com fotografia escura e contrastada que acentua o clima de pesadelo. Mas é injustiçado. Há momentos notáveis como aquele em que a câmera faz movimentos circulares em torno do herói, como se ele estivesse para desfalecer.
Henry Fonda é perfeito para o personagem-título – tem cara de gente comum, de forma contida e seca, ajudando a construir o clima. Vera Miles (de Psicose e uma das atrizes favoritas do diretor) tem uma de suas melhores atuações (e é impossível falar mais do personagem dela sem estragar o suspense). Hitchcock não aparece em ponta desta vez, narra o prólogo, na única ocasião em que sua voz é ouvida em um de seus filmes.
Foi uma produção barata porque o estúdio não acreditava nela e realmente não fez sucesso de bilheteria.
Janela Indiscreta (Rear Window, 54)
Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Raymond Burr, Thelma Ritter, Wendell Corey, Judith Evelyn.
Fotógrafo de perna quebrada, fica imobilizado numa cadeira de rodas, olhando pela janela a vida de seu vizinhos, quando suspeita de que aconteceu um assassinato. Com a ajuda da namorada, da massagista e um amigo policial, tenta provar o crime.
Rodado entre novembro de 1953 e janeiro de 1954, totalmente nos estúdios da Paramount, onde foi construído um enorme set de 31 janelas de apartamentos. Indicado para os Oscar de Roteiro, Direção e Fotografia.
Hitchcock faz sua ponta habitual, consertando um relógio próximo a um piano em um dos apartamentos. Esta é provavelmente sua obra-prima, uma perfeita lição de cinema. Passa-se inteiramente em um único cenário, um pequeno apartamento de onde um fotógrafo profissional observa os vizinhos. Tudo é perfeito, o roteiro, o elenco e a fotografia.
Mas o fantástico é que Hitchcock nos envolve imperceptivelmente, também nos torna “voyeurs”, cúmplices do herói na tentativa de solucionar um possível assassinato. Isso é realizado sem truque, com uma câmera fluente, sem que a trama amorosa perturbe a ação.
O filme é sempre narrado pelo ponto de vista do fotógrafo (há apenas dois planos errados, dois closes da solteirona e da dançarina que falseiam esse enfoque). Grace Kelly é fotografada e vestida por Edith Head de maneira deslumbrante e parece realmente a princesa que iria logo depois se tornar.
Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951)
Elenco: Farley Granger, Ruth Roman, Robert Walker, Leo G. Carroll, Patricia Hitchcock, Marion Lorne.
Num trem, um tenista campeão é abordado por um estranho que lhe propõe uma troca de assassinatos: ele mataria a mulher do tenista que está negando-lhe o divórcio e em troca ele mataria o pai do outro. Quando o herói recusa, o psicopata comete o crime de qualquer forma e passa a ameaçá-lo.
Clássico de Hitchcock, usando roteiro do escritor Raymond Chandler (Falcão Maltês) e argumento da famosa Patricia Highsmith (O Talentoso Mr. Ripley), e que seria depois homenageado em Jogue a Mamãe do Trem(1987), de Danny DeVito. Com moral muito ambígua (o vilão parece por vezes mais íntegro e simpático do que o herói, bem ao gosto do diretor) e subtexto homossexual evidente (e que fica mais claro na versão inglesa do filme), é especialmente celebrado por dois momentos de tour-de-force: o assassinato visto pelas lentes quebradas dos óculos da vítima e o carrossel que perde o controle.
É também dos filmes mais elaborados e repletos de duplos significados de Hitchcock. Impressiona a interpretação sutil e malévola – discretamente homossexual – do excelente ator Robert Walker (1914-51), que morreria vítima do alcoolismo antes de completar outro filme. Mas também é prejudicado por um elenco discutível e que havia desagradado ao próprio diretor: o efeminado Farley (Hitchcock dizia que William Holden seria a melhor opção para o papel), a masculinizada Ruth, a péssima Marion (que faz a primeira esposa).
Em compensação, a filha do diretor, Pat, se sai bem em uma pequena, mas importante participação como a irmã divertida da noiva do herói, no segundo dos três filmes do pai em que fez pequenos papéis, antes de desistir da carreira para se casar.
Festim Diabólico (Rope, 1948)
Elenco: James Stewart, Farley Granger, John Dall, Sir Cedrick Hardwicke, Constance Collier.
Dois rapazes ricos e discretamente ligados por um caso homossexual, assassinar a um outro rapaz, apenas pelo prazer intelectual de matar e enganar os outros. Escondem o corpo num baú, numa sala onde estão dando uma “cocktail party”. Lançam pistas e fazem brincadeiras como dar um livro com a própria corda que matou o filho do homem que ganha o presente. Até que um professor deles desconfia.
Hitchcock sempre foi um ousado experimentador. Este foi seu primeiro filme colorido, sua primeira produção independente, o primeiro com Stewart (um de seus atores preferidos) e onde mais experimentou novas técnicas.
Foi um desafio filmar uma peça teatral de Patrick Hamilton, inspirada num caso real, o famoso assassinato Leopold-Loeb (que também inspirou o filme Estranha Compulsão, 1959).
Tudo num único cenário, com o mesmo tempo real de ação. Não faz cortes, usa apenas tomadas de dez minutos cada (o máximo que uma câmera conseguia ter), movimentando a câmera entre atores e cenários, numa incrível e trabalhosa marcação, já que eles tinham que ser retirados para dar passagem à câmera.
São apenas oito planos em todo o filme e as mudanças de bobinas são feitas em close de uma tora ou objeto, e às vezes não dá nem para sentir. Há também uma ousadia no tema, num jogo e salão brilhante que foi feito em dez dias de ensaio e apenas 18 de filmagem. Hitchcock aparece atravessando uma rua, logo depois dos créditos.
Interlúdio (Notorious, 1946)
Elenco: Cary Grant, Ingrid Bergman, Claude Rains, Louis Calhern, Leopoldine Konstantin.
A filha de um alemão que foi condenado por ajudar os nazistas nos Estados Unidos é recrutada pelo FBI para uma missão: seduzir e casar-se com um alemão que mora no Rio de Janeiro e que eles suspeitam que está planejando uma rede de espionagem, junto com outros ex-nazistas.
O casal central, infelizmente, nunca veio ao Rio filmar as cenas externas deste suspense produzido por David Selznick, foram usados dublês e cenas de projeção (mas ainda se observa cenas curiosas do Rio antigo).
É famosa a história que Hitchcock contava que ele chegou a ser seguido pelo FBI porque na história utilizou urânio sem saber que ela estava sendo usada para construir a bomba atômica.
Escrito por Ben Hecht, o roteiro não é dos mais prováveis, tanto na trama quanto na execução e só funciona por causa do charme da dupla central (que tem um beijo que foi considerado o mais longo do cinema até então, só interrompido levemente por causa da censura da época).
Há também uma sequência excepcional de suspense com todo o episódio da chave e depois quando eles examinam as garrafas (o final, porém, não tem grande lógica). Foi indicado com Oscars de roteiro, ator coadjuvante (Rains).
Todo o filme é narrado de forma brilhante, numa verdadeira lição de cinema. E que tem um post scriptum curioso: aquela areia escura que está na garrafa misteriosa seria urânio, um elemento fundamental na criação da bomba atômica. O engraçado é que Hitchcock não sabia disso (o filme foi feito antes da explosão em Hiroshima) e o escolheu por acaso. E não entendia porque havia sido seguido por agentes do governo que desconfiavam de suas atividades com tão perigoso mineral.
Rebecca, a mulher Inesquecível (Rebecca,1940 )
Elenco: Laurence Olivier, Joan Fontaine, Judith Anderson, George Sanders, Dame May Whitty, Reginald Denny, Nigel Bruce, Gladys Cooper.
Uma jovem dama de companhia se casa com um rico inglês viúvo, Maxim de Winter, que conheceu em Monte Carlo e que a leva para sua mansão em Mandalay. Mas lá ela é atormentada por sua timidez, pela figura assustadora da governanta e pela presença constante da ex-mulher dele chamada Rebecca, que morreu num acidente de barco.
Não é um suspense convencional, mas um filme de romance e clima, baseado em popular livro de Daphne Du Maurier. Foi o primeiro trabalho do britânico Hitchcock nos Estados Unidos,contratado pelo produtor David O. Selznick e para o qual foi descoberta a inexperiente irmã mais nova da já estrela Olivia de Havilland (ela perdeu o Oscar neste ano, mas ganhou logo depois como consolação com Suspeita, de 1941, também dirigida por Hitchcock).
Sua fragilidade e delicada beleza são ideais para o papel, assim como ficou inesquecível a figura de Judith Anderson como a sinistra governanta, as cenas iniciais, toda a direção de arte, a trilha musical de Franz Waxman.
Ganhou os Oscars de melhor filme e fotografia (George Barnes) num total de nove indicações (diretor para Hitchcock, que só ganharia um especial no fim da vida, atriz, ator, atriz coadjuvante, Judith, roteiro adaptado, cenografia, trilha musical, montagem, efeitos especiais).
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