Spielberg é um diretor que gosta de despertar emoções em seu público. Na maior parte das vezes, lágrimas. Em "Cavalo de Guerra", ele parece se esforçar em todos os momentos para conseguir esse feito. Desde a trilha sonora de John Williams, quase onipresente, até a determinadas situações do roteiro exageradas, como principalmente àquelas relacionadas aos sacrifícios que o cavalo passa por aqueles que ama, existem diversos momentos de emoções forçadas. Enfim, isso é Spielberg, quem é do discurso que não gosta de ser "manipulado" por um diretor de cinema, é melhor ficar distante. Quem, como eu, acredita que todo artista busca despertar emoções em seu público, pode curtir e, afinal, emocionar-se com mais esse espetáculo de Steven Spielberg.
Minha Cotação: * * * 1/2
Crítica Cineweb
por Neusa Barbosa
04/01/2012
http://cineweb.com.br/filmes/filme.php?id_filme=3598
Mais famoso e bem-sucedido rei de Hollywood, não é todo dia que Steven Spielberg resolve sentar na cadeira de diretor. Leva dois, três anos de cada vez até achar um projeto que tenha a sua cara, enquanto persevera numa vertiginosa carreira de produtor. No final de 2010, em compensação, achou dois. O primeiro, Cavalo de Guerra, está chegando aos cinemas, com duas indicações ao Globo de Ouro: melhor filme (drama) e melhor trilha sonora. No final do mês, estreia o outro, As aventuras de Tintim.
Spielberg é o tipo do profissional do cinema que já tem tudo, todos os prêmios, toda a fama, tudo que alguém do ramo pode sonhar. Sobra, então, a paixão por lançar-se numa história que preencha os requisitos daquilo que move a sua sensibilidade e inegável competência. De certa maneira, o diretor revisita O resgate do soldado Ryan (98), seu melhor drama até aqui, numa carreira pontuada por maior perícia em aventuras (Caçadores da Arca Perdida) e filmes com elementos fantásticos (E.T.- O Extraterrestre, Minority Report – A Nova Lei, A.I. Inteligência Artificial, O Mundo Perdido: Jurassic Park).
Com uma ambição que é também combustível para um contínuo esforço de auto-superação, Spielberg lança-se, em Cavalo de Guerra, ao resgate de um cinemão à moda antiga, no bom sentido. Procura realizar aquele tipo de narrativa épica e arrebatadora que sintonize com todo tipo de público, de qualquer idade, de qualquer nação e que seja capaz de transcender qualquer barreira temporal.
O jovem Albert e seu cavalo, Joey |
Baseados no bestseller de 1982 do inglês Michael Morpurgo, os roteiristas Lee Hall (Billy Elliott) e Richard Curtis (Quatro Casamentos e um Funeral) recriam para a tela uma história que, na essência, resume-se à irrompível ligação entre um jovem, Albert (o novato inglês Jeremy Irvine), e seu cavalo, Joey.
Albert é o filho único de um casal de agricultores, Ted (Peter Mullan) e Rosie (Emily Watson), que arrendou uma pequena propriedade do rico Lyons (David Thewlis) nos arredores de Devon, Inglaterra. Para pagar o dono e poder arar a propriedade, a família precisa de um cavalo. Contra toda a lógica e para afrontar seu esnobe arrendatário, Ted acaba comprando um cavalo lindo, mais apropriado à montaria do que à lide agrícola. De quebra, torra as economias familiares.
A ousadia cai bem aos olhos do filho, que se encarregará de treinar Joey para enfrentar quase tudo, inclusive o arado – uma habilidade que salvará sua vida numa situação inusitada no futuro.
Sustentando o controle do ritmo da narrativa, Spielberg constrói solidamente esta relação de afeto entre Albert e o cavalo, que enfrentará desafios mortais na I Guerra, a última em que cavalos foram usados nas frentes de batalha da Europa. Uma guerra que ficou conhecida pela selvageria de suas trincheiras e que teve um saldo estimado em um milhão de mortos.
Cavalo de Guerra trata desta separação entre Albert e Joey, quando o cavalo é vendido por Ted para as tropas inglesas, e vai mudando de mãos, entre britânicos, alemães e franceses, ao longo do conflito. Todo tipo de peripécia e agrura espera este valoroso cavalo, que suporta o inominável esforço de carregar canhões por campos enlameados e resiste aos tiros e balas de canhão em diversos combates.
Albert, do seu lado, mantém-se firme em sua disposição de reencontrar seu cavalo, custe o que custar, por absurda que pareça esta intenção, no clima geral de destruição causado pela guerra. O rapaz alista-se como soldado e nunca perde a esperança de recuperar Joey, que se torna um símbolo daquilo que um ser humano não abre mão, sob risco de perder sua própria essência.
Numa das cenas mais impressionantes do filme, o cavalo corre pelas trincheiras de uma guerra, no meio de uma batalha |
Pode-se criticar, aqui e ali, um excesso – talvez o maior seja o uso da música, como sempre, de autoria do competente John Williams. Mas é inegável que Cavalo de Guerra recupera o melhor de uma tradição cinematográfica que visa envolver o espectador, tirá-lo do chão, mexer com suas emoções, contando com toda a pesquisa e recursos técnicos necessários, mas que não seriam nada se a história não fosse mesmo grandiosa e resplandecesse na pele dos atores. É um grande e talentoso elenco, afinado como uma orquestra. E o cavalo também é demais.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Jeremy Irvine, Tom Hiddleston, David Thewlis, Emily Watson, Benedict Cumberbatch, Toby Kebbell, Peter Mullan, David Kross, Eddie Marsan, Geoff Bell, Niels Arestrup
Produção: Kathleen Kennedy, Steven Spielberg
Roteiro: Lee Hall, Richard Curtis, baseado no livro de Michael Morpurgo
Fotografia: Janusz Kaminski
Trilha Sonora: John Williams
Ano: 2011
País: EUA/ Reino Unido
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Walt Disney Pictures
Estúdio: DreamWorks SKG / Amblin Entertainment / Touchstone Pictures / Reliance Entertainment / The Kennedy/ Marshall Company
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