Boa parte da crítica reclamou do excesso de efeitos, informações e de estripulias visuais do diretor. Para quem não gosta e é adepto do menos é mais, esse talvez não seja o melhor filme. Eu não me importo, adorei o filme e adorei todos os excessos do diretor. Mas é certo que o filme, no que mais precisa, acerta em cheio: roteiro e elenco estão ótimos. Dessa forma, "Dois Coelhos" é uma viagem cinematográfica muito louca, frenética, cheia de referências de Guy Ritchie, Tarantino ou Fernando Meirelles, que empolga muito mais do que desanima. E num tempo em que o cinema, em geral, desanima mais do que empolga, o santista Afonso Poyart deixa o seu recado e salva o dia.
Minha Cotação: * * * * 1/2
Crítica | Cinema em Cena
por Pablo Villaça
por Pablo Villaça
http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=11407
Dirigido por Afonso Poyart. Com: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes, Neco Villa Lobos, Roberto Marchese, Norival Rizzo, Thogun, Thaíde, Yoram Blaschkauer, Robson Nunes, Aldine Muller.
É relativamente comum que diretores estreantes em longas busquem incluir ao menos um plano-sequência nestes seus primeiros trabalhos, numa espécie de afirmação do tipo “mamãe, sou cineasta!”. Pois em 2 Coelhos, o diretor Afonso Poyart resiste a esta tentação – mas só, já que cede a praticamente todas as outras, atirando ao longo da projeção todo tipo de efeito e recurso que provavelmente coletou na mente ao longo de anos por julgá-los “bacanas” em outros filmes. Com isso, acaba criando uma narrativa poluída e sem foco em sua linguagem, entregando-se a todo tipo de distração desnecessária. O mais curioso, portanto, é que seu filme se beneficie tanto de sua empolgação criativa que se mantenha como uma experiência repleta de energia que, mesmo sem ter muita coerência visual, ainda mantém o espectador interessado – e muito – no que está ocorrendo na tela.
Escrito pelo próprio diretor, o filme gira em torno de Edgar (Alves Pinto), cuja constante narração em off (e que funciona na maior parte do tempo, o que é raro) nos apresenta a uma série de personagens que se cruzam numa trama com tantas reviravoltas que me limitarei ao básico para não correr o risco de entregá-las: Júlia (Negrini) é uma funcionária da promotoria que, casada com o advogado Henrique (Villa Lobos), vaza informações para que este possa defender seu principal cliente, o bandido Maicom (Descartes). No entanto, quando provas irrefutáveis do envolvimento deste numa série de crimes são entregues misteriosamente ao promotor, Júlia sugere que subornem o deputado Jader (Marchese), que talvez possa ajudá-los. Determinado a roubar o dinheiro, Edgar ainda deve lidar com um incidente trágico do passado que o liga ao introspectivo Walter (Ciocler).
Determinado a criar uma obra com linguagem moderna e ágil, Poyart já inicia o filme com intervenções gráficas na tela que ilustram a narração do protagonista – mas assim como fará diversas vezes ao longo da projeção, logo abandona a ideia para investir em outros recursos narrativos. Com isso, 2 Coelhos inclui elementos de mockumentary (desconhecidos oferecem depoimentos sobre o protagonista), fantasia e até mesmo duas sequências nas quais Edgar surge num videogame, num momento provavelmente inspirado por A Praia. Da mesma maneira, a montagem (executada por nada menos do que três profissionais, incluindo o diretor) estabelece uma estrutura não-linear que frequentemente recorre a flashbacks para esclarecer ou revelar informações importantes, ao passo que, em menor escala, muitas vezes ignora raccords ou mesmo qualquer coerência para apostar em cortes abruptos que surpreendem e intrigam o público (como no instante em que Júlia entra em um elevador e subitamente vemos o bater acelerado de seu coração, numa forma eficaz e divertida de expor seu nervosismo).
Não que Poyart acerte sempre: se a sequência que traz Júlia correndo na praia em câmera lenta, ao som de uma canção cafona e com um beija-flor ao lado é certeira ao expor o ponto de vista emocional do narrador, menos justificável é acompanhar as crises de pânico da garota, que ganham corpo em cenas fantasiosas que poderiam ter saído de Sucker Punch e servem apenas como firula estilística, não como algo orgânico à narrativa (e o mesmo vale para o plano bobo que acompanha um comprimido entrando na boca da moça). Por outro lado, mesmo nestes instantes 2 Coelhos merece créditos pela boa realização dos efeitos e pela fotografia estilizada, que ao menos distinguem plasticamente estas atrapalhadas intervenções de um cineasta obviamente entusiasmado com o trabalho.
Enquanto isso, o diretor de fotografia Carlos Zalasik é hábil ao evocar de maneira rápida – especialmente considerando a energia excessiva de Poyart – a atmosfera dos diversos momentos da trama: percebam, por exemplo, como o rápido plano que retrata o início da carreira do deputado Jáder ilustra com agilidade o mundo sombrio no qual este mergulha ao ser eleito, ao passo que as sequências envolvendo Júlia na praia sugerem um raro momento de alegria num universo constantemente triste no qual todos parecem sempre tensos. Além disso, os planos em câmera lenta são rodados de maneira elegante, conferindo uma aura descolada à ação – e mais uma vez é possível perceber a influência de Zack Snyder sobre o diretor (e não, não sou um dos detratores do cineasta norte-americano, como fica claro em meus textos sobre Madrugada dos Mortos, 300, Watchmen e mesmo Sucker Punch, além de ser admirador também de A Lenda dos Guardiões). Ainda assim, é importante salientar que Zalasik segue a tendência aos excessos de Poyart, pecando na quantidade deflares (que deixariam J.J. Abrams feliz) e mesmo na rápida cena que apresenta o vilão Maicom, que inexplicavelmente surge num estilo que remete ao cinema do início do século passado, com direito a artefatos de fotografia e um tom sépia carregado.
Contando com um elenco que não traz um único elemento frágil, 2 Coelhos se beneficia da preparação de Fátima Toledo e da entrega de seus atores – e até mesmo a dicção preguiçosa de Fernando Alves Pinto, problemática em outros trabalhos, aqui serve bem a um personagem sempre seguro de seus planos. De forma similar, se já classifiquei Caco Ciocler como um “buraco negro de carisma” em certos filmes, ele aqui se apresenta como um intérprete capaz de sugerir todo o sofrimento de Walter sem praticamente abrir a boca, apenas através da expressão corporal rígida e do rosto sempre endurecido. E se Alessandra Negrini, linda, surge ao mesmo tempo como femme fatale e vítima das circunstâncias, numa composição intrigante e eficaz, Roberto Marchese transforma o deputado Jader numa figura cínica e ambiciosa com relativamente pouco tempo de tela (ainda assim, as ações de seu personagem no clímax são absolutamente implausíveis, o que, claro, não é culpa do intérprete). Fechando o elenco, Marat Descartes estabelece Maicom como um vilão realmente capaz de nos fazer temer pelo destino do(s) herói(s) sem jamais recorrer à caricatura ou ao histrionismo.
Experiência divertida e jamais entediante que certamente calará aqueles que alegam que o Brasil não é capaz de fazer um bom Cinema de gênero (afirmação que, além de tola e preconceituosa, é historicamente incorreta), 2 Coelhos nos apresenta a um diretor obviamente talentoso que precisa apenas de um pouco de autodisciplina para crescer. E agora que Poyart expulsou de seu sistema tudo aquilo que o empolgou em outros filmes, estou curioso para ver o que fará em seguida.
Crítica | Blog do Rubens Ewald Filho
24 janeiro 2012
Dois Coelhos
Dirigido por Afonso Poyart. Com: Fernando Alves Pinto, Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Marat Descartes, Neco Villa Lobos, Roberto Marchese, Norival Rizzo, Thogun, Thaíde, Yoram Blaschkauer, Robson Nunes, Aldine Muller.
É relativamente comum que diretores estreantes em longas busquem incluir ao menos um plano-sequência nestes seus primeiros trabalhos, numa espécie de afirmação do tipo “mamãe, sou cineasta!”. Pois em 2 Coelhos, o diretor Afonso Poyart resiste a esta tentação – mas só, já que cede a praticamente todas as outras, atirando ao longo da projeção todo tipo de efeito e recurso que provavelmente coletou na mente ao longo de anos por julgá-los “bacanas” em outros filmes. Com isso, acaba criando uma narrativa poluída e sem foco em sua linguagem, entregando-se a todo tipo de distração desnecessária. O mais curioso, portanto, é que seu filme se beneficie tanto de sua empolgação criativa que se mantenha como uma experiência repleta de energia que, mesmo sem ter muita coerência visual, ainda mantém o espectador interessado – e muito – no que está ocorrendo na tela.
Escrito pelo próprio diretor, o filme gira em torno de Edgar (Alves Pinto), cuja constante narração em off (e que funciona na maior parte do tempo, o que é raro) nos apresenta a uma série de personagens que se cruzam numa trama com tantas reviravoltas que me limitarei ao básico para não correr o risco de entregá-las: Júlia (Negrini) é uma funcionária da promotoria que, casada com o advogado Henrique (Villa Lobos), vaza informações para que este possa defender seu principal cliente, o bandido Maicom (Descartes). No entanto, quando provas irrefutáveis do envolvimento deste numa série de crimes são entregues misteriosamente ao promotor, Júlia sugere que subornem o deputado Jader (Marchese), que talvez possa ajudá-los. Determinado a roubar o dinheiro, Edgar ainda deve lidar com um incidente trágico do passado que o liga ao introspectivo Walter (Ciocler).
Determinado a criar uma obra com linguagem moderna e ágil, Poyart já inicia o filme com intervenções gráficas na tela que ilustram a narração do protagonista – mas assim como fará diversas vezes ao longo da projeção, logo abandona a ideia para investir em outros recursos narrativos. Com isso, 2 Coelhos inclui elementos de mockumentary (desconhecidos oferecem depoimentos sobre o protagonista), fantasia e até mesmo duas sequências nas quais Edgar surge num videogame, num momento provavelmente inspirado por A Praia. Da mesma maneira, a montagem (executada por nada menos do que três profissionais, incluindo o diretor) estabelece uma estrutura não-linear que frequentemente recorre a flashbacks para esclarecer ou revelar informações importantes, ao passo que, em menor escala, muitas vezes ignora raccords ou mesmo qualquer coerência para apostar em cortes abruptos que surpreendem e intrigam o público (como no instante em que Júlia entra em um elevador e subitamente vemos o bater acelerado de seu coração, numa forma eficaz e divertida de expor seu nervosismo).
Não que Poyart acerte sempre: se a sequência que traz Júlia correndo na praia em câmera lenta, ao som de uma canção cafona e com um beija-flor ao lado é certeira ao expor o ponto de vista emocional do narrador, menos justificável é acompanhar as crises de pânico da garota, que ganham corpo em cenas fantasiosas que poderiam ter saído de Sucker Punch e servem apenas como firula estilística, não como algo orgânico à narrativa (e o mesmo vale para o plano bobo que acompanha um comprimido entrando na boca da moça). Por outro lado, mesmo nestes instantes 2 Coelhos merece créditos pela boa realização dos efeitos e pela fotografia estilizada, que ao menos distinguem plasticamente estas atrapalhadas intervenções de um cineasta obviamente entusiasmado com o trabalho.
Enquanto isso, o diretor de fotografia Carlos Zalasik é hábil ao evocar de maneira rápida – especialmente considerando a energia excessiva de Poyart – a atmosfera dos diversos momentos da trama: percebam, por exemplo, como o rápido plano que retrata o início da carreira do deputado Jáder ilustra com agilidade o mundo sombrio no qual este mergulha ao ser eleito, ao passo que as sequências envolvendo Júlia na praia sugerem um raro momento de alegria num universo constantemente triste no qual todos parecem sempre tensos. Além disso, os planos em câmera lenta são rodados de maneira elegante, conferindo uma aura descolada à ação – e mais uma vez é possível perceber a influência de Zack Snyder sobre o diretor (e não, não sou um dos detratores do cineasta norte-americano, como fica claro em meus textos sobre Madrugada dos Mortos, 300, Watchmen e mesmo Sucker Punch, além de ser admirador também de A Lenda dos Guardiões). Ainda assim, é importante salientar que Zalasik segue a tendência aos excessos de Poyart, pecando na quantidade deflares (que deixariam J.J. Abrams feliz) e mesmo na rápida cena que apresenta o vilão Maicom, que inexplicavelmente surge num estilo que remete ao cinema do início do século passado, com direito a artefatos de fotografia e um tom sépia carregado.
Experiência divertida e jamais entediante que certamente calará aqueles que alegam que o Brasil não é capaz de fazer um bom Cinema de gênero (afirmação que, além de tola e preconceituosa, é historicamente incorreta), 2 Coelhos nos apresenta a um diretor obviamente talentoso que precisa apenas de um pouco de autodisciplina para crescer. E agora que Poyart expulsou de seu sistema tudo aquilo que o empolgou em outros filmes, estou curioso para ver o que fará em seguida.
Crítica | Blog do Rubens Ewald Filho
24 janeiro 2012
Dois Coelhos
http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/
Se for verdade que imitar alguém é a forma mais sincera de elogio, o diretor Afonso Poyart deve adorar o diretor inglês Guy Ritchie, já que com 2 Coelhos realizou a mais evidente imitação dos filmes e técnicas narrativas do ex-marido de Madonna.
E sem esquecer também um certo diálogo com Quentin Tarantino, a quem todos do gênero policial devem muito. Ah, sim, o título se refere àquela famosa expressão de matar dois coelhos com uma só cajadada!
Há algum mal nisso? Hoje em dia, como já previa Chacrinha, em eras mais inocentes, todo mundo copia, homenageia, cita algo mais antigo e anterior (e o mais divertido é que tem gente que nem percebe já que grassa a desinformação). E vira post moderno.
A regra parece ser: se deu certo, se funcionou, fica tudo por isso mesmo. Quando este filme estreou eu estava fora do país, mas fiquei impressionado com a repercussão boca a boca, porque várias pessoas vieram comentá-lo, em geral positivamente.
Fiquei espantado com o número de cópias, ainda mais no mês de janeiro, mas interpretei como confiança do distribuidor no resultado do filme. Assisti a 2 Coelhos numa segunda-feira no Cinemark da Granja Viana junto com outras 25 pessoas - o que não é mal - e somente um casal saiu no meio. Os outros aparentaram gostar.
Realmente dentro do padrão do que se costuma fazer no Brasil com filmes policiais e, até comparando com Assalto ao Banco Central, o novo filme funciona bem. Ainda que rodado em 2009 ficou muito tempo em post produção, já que utiliza grande quantidade de efeitos digitais, ainda que alguns deles bem precários. Incêndio em carro, tiroteios não muito convincentes e até sequência copiando videogame estão entre os problemas. Mas o saldo parece positivo. Com pouca grana, com um elenco não muito famoso, Poyart conseguiu um bom resultado.
É verdade que o filme começa muito intenso usando os recursos emprestados a Ritchie, como um narrador em off, cuja dicção não é das melhores e que, além disso, de vez em quando some da história. Além disso, faz grafismos em cima da imagem, rabiscos que criticam ou ilustram o que ele está dizendo. Os primeiros 15 minutos são os melhores, como se o dinheiro não tivesse permitido manter esse ritmo o tempo todo. Aí o filme ganha alguma barriga porque começa com idas e vindas, enquanto o narrador interrompe a história para explicar situações e detalhes.
Tem algumas coisas muito bem-sucedidas como as conversas entre os bandidos liderados por Marat Descartes. Apesar de ele às vezes lembrar José Mojica Marins, é sempre um bom ator, aliás, nos letreiros afirmam que o elenco teve preparação de ator da Fátima Toledo. Mas são vários bons atores paulistanos que nem precisariam disso. Embora tenha tido especial prazer em rever Aldine Muller, uma das musas da pornochanchada, ainda em forma, e meu amigo Thogun mais uma vez demonstrando sua versatilidade. Enfim, as conversas me parecem ter nascido de improvisos de ensaio e com seu humor negro são muito divertidas.
A melhor coisa para mim é o roteiro que é muito complexo e até confuso como preza o gênero. É cheio de vai e vem, dá umas pitadas críticas na corrupção brasileira e, aos poucos, vai explicando o que ficou no ar. Exige um espectador um pouco mais atento do que o nosso, que continua abrindo celular e passando mensagens. Na parte final se atrapalha um pouco. Detesto personagens que fazem coisas sem lógica, como o deputado que vai buscar dinheiro em plena Praça Roosevelt e não some nem com tiroteio.
Aliás, em momento algum há polícia, ela nunca aparece! Outra coisa: personagem que emburrece de repente. Como o casal que, ao escapar depois da explosão, vai se refugiar num hotel de luxo e ainda por cima leva o pai para lá. Não teria sido mais lógico ter ido para um lugar longe e indeterminado? Era óbvio que seriam perseguidos. Embora amarre ao final os fios que estavam desfeitos, não sei se é exatamente a conclusão mais feliz em que poderiam pensar. Também não gosto da trilha musical, que poderia ser mais Brasil, dar alguma cor local mesmo emulando o gênero.
Essas imperfeições não tiram o mérito de uma boa estreia num longa, num caminho que eu gosto: fazer um filme comercial de qualidade. Só agora procurando pela biografia do diretor (que não conheço) é que vejo que ele é santista como eu! Mas santista é tão bairrista que vai ver é melhor assim, assim não posso ser acusado de protegê-lo (e nem ele de ter me procurado!).
FICHA TÉCNICA
Diretor: Afonso Poyart
Elenco: Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Fernando Alves Pinto, Thaide, Marat Descartes, Thogun, Neco Villa Lobos
Produção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart
Fotografia: Carlos André Zalasik
Duração: 104 min.
Ano: 2010
País: Brasil
Gênero: Policial
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Black Maria Filmes
Classificação: 16 anos
Se for verdade que imitar alguém é a forma mais sincera de elogio, o diretor Afonso Poyart deve adorar o diretor inglês Guy Ritchie, já que com 2 Coelhos realizou a mais evidente imitação dos filmes e técnicas narrativas do ex-marido de Madonna.
E sem esquecer também um certo diálogo com Quentin Tarantino, a quem todos do gênero policial devem muito. Ah, sim, o título se refere àquela famosa expressão de matar dois coelhos com uma só cajadada!
Há algum mal nisso? Hoje em dia, como já previa Chacrinha, em eras mais inocentes, todo mundo copia, homenageia, cita algo mais antigo e anterior (e o mais divertido é que tem gente que nem percebe já que grassa a desinformação). E vira post moderno.
A regra parece ser: se deu certo, se funcionou, fica tudo por isso mesmo. Quando este filme estreou eu estava fora do país, mas fiquei impressionado com a repercussão boca a boca, porque várias pessoas vieram comentá-lo, em geral positivamente.
Fiquei espantado com o número de cópias, ainda mais no mês de janeiro, mas interpretei como confiança do distribuidor no resultado do filme. Assisti a 2 Coelhos numa segunda-feira no Cinemark da Granja Viana junto com outras 25 pessoas - o que não é mal - e somente um casal saiu no meio. Os outros aparentaram gostar.
Realmente dentro do padrão do que se costuma fazer no Brasil com filmes policiais e, até comparando com Assalto ao Banco Central, o novo filme funciona bem. Ainda que rodado em 2009 ficou muito tempo em post produção, já que utiliza grande quantidade de efeitos digitais, ainda que alguns deles bem precários. Incêndio em carro, tiroteios não muito convincentes e até sequência copiando videogame estão entre os problemas. Mas o saldo parece positivo. Com pouca grana, com um elenco não muito famoso, Poyart conseguiu um bom resultado.
É verdade que o filme começa muito intenso usando os recursos emprestados a Ritchie, como um narrador em off, cuja dicção não é das melhores e que, além disso, de vez em quando some da história. Além disso, faz grafismos em cima da imagem, rabiscos que criticam ou ilustram o que ele está dizendo. Os primeiros 15 minutos são os melhores, como se o dinheiro não tivesse permitido manter esse ritmo o tempo todo. Aí o filme ganha alguma barriga porque começa com idas e vindas, enquanto o narrador interrompe a história para explicar situações e detalhes.
Tem algumas coisas muito bem-sucedidas como as conversas entre os bandidos liderados por Marat Descartes. Apesar de ele às vezes lembrar José Mojica Marins, é sempre um bom ator, aliás, nos letreiros afirmam que o elenco teve preparação de ator da Fátima Toledo. Mas são vários bons atores paulistanos que nem precisariam disso. Embora tenha tido especial prazer em rever Aldine Muller, uma das musas da pornochanchada, ainda em forma, e meu amigo Thogun mais uma vez demonstrando sua versatilidade. Enfim, as conversas me parecem ter nascido de improvisos de ensaio e com seu humor negro são muito divertidas.
A melhor coisa para mim é o roteiro que é muito complexo e até confuso como preza o gênero. É cheio de vai e vem, dá umas pitadas críticas na corrupção brasileira e, aos poucos, vai explicando o que ficou no ar. Exige um espectador um pouco mais atento do que o nosso, que continua abrindo celular e passando mensagens. Na parte final se atrapalha um pouco. Detesto personagens que fazem coisas sem lógica, como o deputado que vai buscar dinheiro em plena Praça Roosevelt e não some nem com tiroteio.
Aliás, em momento algum há polícia, ela nunca aparece! Outra coisa: personagem que emburrece de repente. Como o casal que, ao escapar depois da explosão, vai se refugiar num hotel de luxo e ainda por cima leva o pai para lá. Não teria sido mais lógico ter ido para um lugar longe e indeterminado? Era óbvio que seriam perseguidos. Embora amarre ao final os fios que estavam desfeitos, não sei se é exatamente a conclusão mais feliz em que poderiam pensar. Também não gosto da trilha musical, que poderia ser mais Brasil, dar alguma cor local mesmo emulando o gênero.
Essas imperfeições não tiram o mérito de uma boa estreia num longa, num caminho que eu gosto: fazer um filme comercial de qualidade. Só agora procurando pela biografia do diretor (que não conheço) é que vejo que ele é santista como eu! Mas santista é tão bairrista que vai ver é melhor assim, assim não posso ser acusado de protegê-lo (e nem ele de ter me procurado!).
FICHA TÉCNICA
Diretor: Afonso Poyart
Elenco: Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Fernando Alves Pinto, Thaide, Marat Descartes, Thogun, Neco Villa Lobos
Produção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart
Fotografia: Carlos André Zalasik
Duração: 104 min.
Ano: 2010
País: Brasil
Gênero: Policial
Cor: Colorido
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Black Maria Filmes
Classificação: 16 anos
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